Eu e a minha mulher estamos a viver uma fase complicada: ela anda cansada das horas a mais, em reuniões na escola. Eu, farto do trabalho por turnos. Estamos a viver juntos há cinco anos e já houve momentos piores: quando eu fui destacado para outras zonas do país, por temporadas de mês e meio, ou naquele ano em que ela foi colocada numa escola, a 100 km de distância e ficava em casa de uma pessoa amiga, por uma renda simbólica. Agora, ela diz-me que estamos piores hoje, que tem saudades destes tempos em que alternávamos tempos de proximidade e afastamento. Que assim, como está, se torna esgotante a pressão de conciliar o tempo para nós dois. Eu prefiro a situação que temos, e custou-me muito estar longe dela. Estamos na mesma casa mas parecemos dois estranhos, cada um com seu ritmo e a sentir-se mal por isso. Será que devemos fazer umas férias conjugais? A sugestão é de um amigo meu, que já esteve para se divorciar e assim conseguiu equilibrar o barco. O que me aconselha?
Complicada é a vida quando nos sentimos num colete-de-forças. Ou quando as expectativas não se cumprem e geram frustração. “Férias conjugais?” parece ter dentro a pergunta “Será que o nosso amor não resiste mais?” Em cinco anos de estrada, terão ambos superado crises e maçadas quotidianas, descoberto “manias”, preferências, capacidades e limites próprios e conjuntos. Terão, ainda, sido confrontados com limites a superar. Um casal permanece por muitas coisas e a distância é, seguramente, um desafio ou teste a essa permanência. Às vezes, muitas mais do que se espera, é essa distância que dá perspectiva ao significado do que vos une.
Esta é uma questão que se coloca, mais cedo ou mais tarde, numa relação estável que, por ser um sistema vivo, está sujeito a fases de transição. O que parece, inicialmente, um obstáculo e uma ameaça à chamada zona de conforto, pode, mais tarde, traduzir-se em novas possibilidades de sentir-se o mesmo, embora outro (sem o filtro do cônjuge). O casal que caminha “lado a lado”, olhando na mesma direcção, é capaz de acolher – acomodar – margens de liberdade individual, tantas vezes necessárias, sem que tal ponha em risco a vivência plena da união ou a confiança na permanência (dos afetos e significados) entre o espaço (ou o tempo, as rotinas de cada um) que vos separa.
Há casais que desfazem por se ressentirem da falta da presença regular securizante. Outros que se revitalizam (dentro dos limites que consideram “saudáveis” para preservar necessidades pessoais). Não se trata aqui de um desencontro absoluto de compatibilidades, ou de situações mais complexas, como as que levam, por exemplo, um dos cônjuges a emigrar (e o outro optar ou ver-se na situação de ir também, por não se ver a ficar só). Antes da necessidade de fazer pequenos ajustes. 1ª Reservar um espaço da semana exclusivamente para vocês, sem se preocuparem com o que os amigos dizem ou o que é “normal”. 2ª Permitir-se, de vez em quando, ter curtos períodos sem o(a) parceiro(a), algo que não requer imperativos profissionais para poder ser assumido como uma possibilidade de integrar a vida própria e a partilhada.
Convém ainda lembrar que se trata de experimentar, explorar o binómio distância e proximidade, e encontrar um ponto óptimo de equilíbrio (para estar “com” e não “porque tem de ser”). Mas
não lhe chamaria férias conjugais. Antes, gestão do espaço e tempo (o acerto de coordenadas), que implica
maturidade pessoal e
confiança básica.