Meus Amigos, não obstante várias “Cimeiras Mundiais” aflorarem constrangidas e muito ao de leve a questão da pobreza, com promessas do género “redução da pobreza em 50% no Mundo até 2015”, (quem se responsabilizará pelo infelizmente já anunciado fracasso?), falar de pobreza e de exclusão social ainda não está verdadeiramente na ordem do dia, nem em Portugal nem no Mundo (ainda que a miséria seja a causa principal da insegurança que a todos amedronta).
No dia 22 deste mês, a AMI apresentou o estudo “A Vivência da Pobreza”, realizado junto de um universo de 50 beneficiários dos Centros Porta Amiga da AMI em Portugal, tendo sido uma das conclusões, o facto da maioria dos inquiridos não se considerar pobre, apesar de auferir um rendimento per capita que as coloca numa situação de pobreza.
Poderíamos encarar estas conclusões como um sentimento otimista, mas temo que seja, sobretudo, um reflexo de acomodação e desânimo da população, que prefere resignar-se a lutar pela alteração da sua condição.
A título meramente indicativo, refiro que a evolução do número de novos casos atendidos nos Centros Sociais da AMI tem vindo sempre a crescer e de forma particularmente preocupante. Devo confessar que, perante as perspetivas reais do aumento do desemprego entre nós, estou até francamente assustado.
Não é vergonha nenhuma reconhecer esta nossa situação; triste é fazermos a política da avestruz, silenciando o problema. Já o disse várias vezes e volto a repetir que é crucial lançar-se, com caráter de emergência, esta CAUSA NACIONAL E MUNDIAL, sensibilizando, incentivando, motivando, pedindo e exigindo sem tibiezas o esforço e o empenhamento de TODOS nessa vital tarefa para Portugal e para a Humanidade.
Essa atitude é de primordial importância, numa altura em que atravessamos uma grave crise económica e em que os efeitos da mesma são avassaladores para a população portuguesa.
Mais do que nunca, precisamos de RESPONSABILIDADE, RESPONSABILIZAÇÃO, SENSIBILIDADE, EXEMPLARIDADE, SOLIDARIEDADE, ÉTICA E BOM SENSO: não é com o egoísta e nefasto “salve-se quem puder” individual e selvagem, que poremos fim ao caos anunciado. Relembro apenas que a pobreza é uma violação profunda de todos os Direitos Humanos Fundamentais (civis, políticos, culturais, económicos e sociais)! Por outro lado, a violação sistemática de qualquer um desses direitos degenera rapidamente em pobreza! Há pois uma ligação estreita entre pobreza e violação dos Direitos Humanos!
Sempre o disse e repito: nunca nenhum cidadão, evidentemente ainda com maior ênfase para os que têm responsabilidades políticas, digno da sua humanidade e cidadania, o que, ipso facto, implica direitos mas também deveres, poderá dar-se por satisfeito e dormir tranquilo enquanto um único dos seus concidadãos viver na miséria! O que acabo de dizer tem ainda maior relevância no mundo em que vivemos; a luta pela segurança, tão na ordem do dia, não surtirá nenhum efeito duradouro se simultaneamente não trabalharmos também afincadamente para acabar com a pobreza e a injustiça social no nosso País e no Mundo! Será que queremos todos viver amanhã em condomínios fechados e armados, verdadeiras “prisões com grades de ouro” ou mesmo bunkers?
Dirão alguns espíritos, sempre satisfeitos, desde que a miséria não lhes bata à porta, que sou um ingénuo, um sonhador ou um demagogo em imaginar sequer que este assunto tem solução! Sonhador, sim. Ingénuo e demagogo, não! Estou consciente da dificuldade e complexidade da questão mas também sei que, com determinação, esforço, inteligência, sensibilidade e vontade, poderíamos todos juntos, se para isso fôssemos devidamente consciencializados, motivados e alentados, fazer face ao problema e em grande parte resolvê-lo.
Uma vez decidida, dita e explicada claramente esta “CAUSA NACIONAL”, ouso pensar que, politiquices à parte, a larga maioria dos portugueses estaria de acordo quanto à estratégia e aos meios que permitissem retificar o estado de pobreza do nosso País: investimento a sério na educação e na saúde, incentivos à formação profissional e à produtividade (se sabemos ser eficazes e produtivos no Luxemburgo, na Bélgica, na Austrália ou nos Estados Unidos, porque não em Portugal? Ousemos pois interrogar-nos!…), combate determinado à fraude, corrupção e evasão fiscais (o que será facilitado se o Estado for visto como pessoa de bem!), desenvolvimento do fundamental conceito de “Cidadania Empresarial”, valorização da competência profissional, do método e da organização em detrimento do laxismo, do amiguismo e do clientelismo político que já tanto prejudicaram o País, investimento numa verdadeira cultura cívica de responsabilidade e de solidariedade entre os cidadãos e entre estes e o Estado e vice-versa, investimento sem contemplações na investigação e na ligação entre as universidades e as empresas (o eterno problema da ideal união entre a teoria e a prática / “mens sana in corpore sano”!).
Temos que dar meios e confiança à sociedade civil organizada, sedenta de ação positiva que poderia canalizar utilmente o enorme potencial de voluntariado dos nossos jovens, reformados e pré-reformados… Enfim, mil e um meios que só funcionarão se o povo português ACREDITAR e se para isso for positivamente MOTIVADO: é de causas, de UMA CAUSA que todos nós precisamos. Se no-la derem, acreditaremos que somos capazes e, não tenho dúvidas, resolveremos a questão tão bem ou melhor do que outros! SOMOS CAPAZES: PRECISAMOS TÃO SÓ DE UMA CAUSA JUSTA E NOBRE E DE SER MOTIVADOS! Que imenso bem tal causa bem-sucedida faria ao nosso tão abalado ego nacional.
Aceitar como normal, ou inevitável, a pobreza e a miséria humana é que NÃO! NÃO aceito e estou pronto a enfrentar todos os moinhos de vento! É inclusive o que a AMI tem tentado fazer nos últimos 30 anos. Reconheço que é esgotante, e por vezes desmoralizante, tais são a inércia e os obstáculos com que diariamente nos confrontamos mas penso que, modéstia à parte, temos demonstrado que é possível! Sou daqueles que entende que vale a pena realizar sonhos e utopias. Este é o nosso dever: amanhã os nossos filhos só terão direitos se, desde já e sem ambiguidades ou tibiezas, assumirmos este indeclinável dever!
Sinto vergonha sempre que vejo uma mão estendida em Portugal e no Mundo e não consigo dormir tranquilo! Mais do que nunca, quero sonhar que é possível: é a sobrevivência do nosso coletivo, são as nossas dignidade e honra de Seres Humanos e Portugueses que estão em causa! Não nos é permitido falhar! Sonhemos e atuemos! Oxalá assim, consigamos todos dormir tranquilos amanhã!
Se não for em nome do Humanismo, que atuemos, pelo menos, em nome da Inteligência!