Ao acabar a licenciatura em gestão de empresas, Francisco Jonet adiou o mestrado e partiu para o Burundi, onde, durante um ano, se dedicaria a um projeto em regime de voluntariado. Para a sua mãe, Isabel Jonet, não terá sido este episódio o responsável por Francisco ter arranjado logo emprego.
Afinal, fora sempre um muito bom aluno. A distinção (tanto no curso como na pós-graduação que fez quando regressou do Burundi) terá certamente contribuído para o êxito profissional de Francisco, que hoje, aos 26 anos, trabalha em Madrid e já está a ser aliciado para se mudar para Londres.
É provável que a experiência no Burundi tenha funcionado como um fator diferenciador.
Será difícil ter certezas sobre a relação de causa-efeito entre o voluntariado e o recrutamento, mas foi essa a ideia com que Mariana Branquinho da Fonseca ficou quando ouviu a história de Francisco. Para a partner da consultora de recursos humanos Heidrick & Struggles, é muito importante “conhecer as pessoas para lá da experiência profissional. É preciso conhecê-las enquanto pessoas” e um currículo (CV) que integre experiências de ações mostra “que tipo de valores defende essa pessoa e que atividades contribuem para a sua realização pessoal”.
Esta realidade é ainda mais importante quando se trata de currículos de jovens, “que são mais ou menos todos iguais”. As atividades extracurriculares podem constituir um fator de diferenciação e mostrar “proatividade, resiliência, preocupação com o outro, hábitos de trabalho em condições adversas”. Não será, porventura, critério de recrutamento, mas, em certos momentos de decisão, é seguramente um ponto a favor.
Valorização profissional
Mariana Branquinho da Fonseca não é a única a pensar assim. Um estudo da consultora Deloitte Internacional concluiu que a experiência de voluntariado aumenta as hipóteses de contratação dos recém-licenciados.
Oito em cada 10 executivos de recursos humanos atestam que o voluntariado é tido em conta, na hora de avaliar um CV. Em contrapartida, mais de metade dos estudantes inquiridos recusam dedicar-se a esta atividade com o intuito de melhorar o seu CV apenas 46% veem neste tipo de experiência uma forma de se valorizarem, enquanto profissionais.
Joana Teixeira concorda. Foi “para a rua” aos 15 anos, “trabalhar” com as equipas que prestam apoio às pessoas sem-abrigo. Sem imaginar ainda que se tornaria mestre em psicologia, com especializações em psicologia comunitária e proteção de menores (a que dedicou o mestrado) ou se interessaria por psicologia criminal (tema da sua pós-graduação), nunca distribuiu seringas (a toxicodependentes), preservativos (a prostitutas) ou refeições (aos que vivem na rua) a pensar que isso poderia ser uma mais-valia curricular. Alerta até para certos perigos de uma dedicação com corpo, mas sem alma: “Quando o objeto do voluntariado são pessoas, se não se está a cem por cento, o trabalho torna-se muito duro para os próprios e ainda se corre o risco de causar danos aos outros.” Hoje com 23 anos, Joana Teixeira está prestes a começar o estágio para entrada na Ordem dos Psicólogos. Acredita que não conseguiu o seu “primeiro” emprego remunerado por causa do voluntariado, mas a verdade é que, entre os vários candidatos, ela é que tinha, no início da sua carreira profissional, oito anos de “estaleca”, como lhe chama. “O voluntariado é muito mais do que um meio para enriquecer o currículo.
Faz parte de nós.” Aprendem-se muitas coisas, mas “principalmente a dar e a receber”.
E isso, diz, “faz de nós pessoas, não apenas trabalhadores.”