Sou solteiro, 32 anos. Não sou feio mas também nada de “number one”.
Mas não há forma de conseguir uma rapariga. Quando a sorte parece estar à porta parece que algo corre sempre mal… Sei que existe grande probabilidade de ter algumas raparigas, mas tudo o que planeio ou tento fazer sai sempre ao contrário.
Já ouvi dizer que se deve encontrar e não procurar, mas daqui a pouco estou na reforma e nada… Algum conselho, por favor?
J.S.
Começo por questioná-lo acerca do que significa, para si, conseguir, ou melhor, ter, uma rapariga. No campo dos relacionamentos, a intenção conta. Esse registo de motivação “passa”, ou seja, é percebido pelo outro, seja nos gestos que temos (ou não temos) e na atitude que se revela nos pormenores (ver, mais do que apenas olhar, mostrar-se disponível e atento, mais do que seguir um guião/plano orientado para resultados, só para dar alguns exemplos).
Pode acontecer que tenha alguma dificuldade ao nível das competências sociais (ansiedade social ou alguma inibição na abordagem do sexo oposto) ou, pelo contrário, estar tão centrado no seu desempenho que lhe passem ao lado pistas significativas ou sinais da pessoa que gostaria de seduzir (ou encontrar).
A questão do “number one” é outro ponto a merecer atenção. O que o leva a querer estar na linha da frente, em matéria de beleza? A pessoa que há em si não se resume ao invólucro (a uma parte) e mal estamos quando assim é, porque a tal “busca” acaba por resumir-se a uma questão de ter (ou de ser) um troféu. Imagine que uma rapariga está convencida de que só se tiver um peito com medidas xpto é que conquista alguém. Dá-se o caso de haver um candidato e ela, tal como outras raparigas, mostra interesse nele, avança e “tem sorte”. Pergunta: Será que foi por causa do soutien que ela usa (ou do peito que tem) que o conquistou? Nesse caso, essa “parte” é a única responsável, não “o resto” (a pessoa com essa mais valia).
Se tem qualquer tipo de angústia em relação à sua auto-imagem e é isso que o norteia na tentativa de se relacionar com uma mulher, a dúvida vai estar sempre lá e fazer-lhe a vida num inferno e troque as voltas aos seus planos (ou intenções, que não são claras tendo apenas como referência o seu texto). É natural que descubra, num destes dias, que é igual a toda a gente. E que, como em tudo na vida, há circunstâncias mais, ou menos, favoráveis à possibilidade de encontros. Acrescentaria aqui, de qualidade. Porque é disso que se trata.
Talvez já se tenha interrogado acerca da facilidade com que pessoas que, à primeira vista, não reunindo as condições que imagina fazerem delas “number one”, são bafejadas pela sorte. Antes de pensar que ela está mal distribuída, procure dar mais atenção ao momento, à interacção, à oportunidade de conhecer, sem fazer grandes planos (ou seja, dar margem de liberdade à outra pessoa de quem deseja aproximar-se). E sem se autocensurar, caso se sinta, por alguma razão, desconfortável ou inadequado.
Muitas vezes, o que consideramos os nossos pequenos “defeitos” têm a misteriosa capacidade de chamar a atenção do outro (e vice versa). A abundância na vida amorosa tem caminhos que merecem ser explorados, sem formatos pré-definidos e, já agora, indo inteiro (com defeitos, qualidades, necessidades), mesmo que tenha medos, interessado em aceitar a experiência e adaptar-se a ela de forma ativa, sem omitir as suas intenções.