Salma Rai, de 40 anos, chega a ficar com dores no pescoço por estar tanto tempo dobrada. Num dia normal, a oftalmologista do Lumbini Eye Institute, no Nepal, faz 50 a 60 cirurgias às cataratas. “Lá, um oftalmologista está sempre a operar, não há tempo para estar a prescrever óculos”, brinca com suavidade.
Em Portugal, para receber o prémio Visão da Fundação Champalimaud atribuído a quatro instituições nepalesas que combatem problemas oftalmológicos, Salma ainda não acredita que os 250 mil euros (um quarto do valor global de um milhão) vão parar ao hospital que dirige. Mais do que financiar operações, a médica quer criar um projeto de investigação “gostava que ficasse alguma coisa para o futuro”, revela.
Por causa da altitude e de uma elevada exposição à radiação solar, o Nepal tem uma elevada taxa de cegueira evitável, sobretudo cataratas. E em 1981, quando foi criada a ONG Nepal Netra Jyoti Sangh (NNJS) Sociedade Nacional para o Tratamento dos Olhos 0,84% dos nepaleses eram cegos. Hoje, esta taxa desceu para 0,35% e o tracoma (infeção que causa cegueira) foi erradicado.
Ram Prasad Pokhrel é o grande responsável por esta mudança. Depois de ter estudado em Inglaterra, o oftalmologista regressou ao seu país e fundou a NNJS, para combater aquele que era um dos mais graves problemas de saúde pública.
Agora, o principal objetivo da organização é a deteção precoce dos problemas de visão nas crianças e a montagem de hospitais de campanha em zonas onde há pessoas que passam décadas sem ver nada, por não saberem que o mal tem cura. “É para aí que vai o dinheiro do prémio”, conta Tirtha Mishra.
No anfiteatro ao ar livre da Fundação estiveram ainda, os responsáveis do Eastern Regional Eye Care Programme e do Tilganga Institute of Ophtalmology.