Em tempos de crise há cada vez mais portugueses a necessitar de apoio face às carências. Por isso o Centro Porta-Amiga da AMI, em Cascais, ajuda cerca de 2500 pessoas. Marlene Pires da Silva, 60 anos, diretora da Instituição, explica-nos como funciona este processo, especialmente a nível alimentar
Quem procura o Centro Porta-Amiga?
Pessoas de todo o tipo. Cada vez mais casais jovens e com filhos. Desde 2008, houve um grande aumento. Só no ano passado tivemos uma frequência de cerca de 1300 pessoas.
Como funciona o apoio nesta instituição?
Os centros Porta-Amiga funcionam quase todos da mesma forma. Existem 13 centros sociais: aqui, na Madeira, em Almada e outros por todo o País. Um dos nossos serviços é o refeitório do coração. As pessoas pagam atualmente 1.35€, que é um custo simbólico e não cobre o valor da refeição, vinda de um restaurante. Mas a ajuda não é só a nível alimentar. O utente que chega aqui tem direito a tudo: enfermeira, distribuição de roupa, apoio psicológico e apoio social. Trabalhamos em várias vertentes.
E as pessoas que não têm possibilidade de pagar?
Existem muitos que não pagam. A pessoa tem de estar inscrita no centro, nós fazemos a anamnese e se de facto a pessoa não tem rendimento, ao calcularmos o rendimento per capita, passa a ter no nosso apoio.
Quem procura este apoio?
As famílias maiores acabam por não procurar esta ajuda, vindo buscar géneros alimentares. Temos acordos com o Banco Alimentar, mas é a AMI Sede que dá a maioria dos alimentos. Aqui, em Cascais, a distribuição é feita uma vez por semana.
Qual é o papel da Segurança Social no meio deste processo?
Diretamente nenhum. As pessoas chegam aqui, inscrevem-se e somos nós que fazemos a análise da sua situação. A Segurança Social só entra num programa que se chama Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC) e em que são disponibilizados géneros alimentares. Mas a Segurança Social, as Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais encaminham muitas pessoas para a instituição de solidariedade social mais próxima da área. Temos muitos protocolos com a Câmara Municipal, que ajuda as pessoas a pagar as contas da luz ou da água. Não damos dinheiro mas, pagamos despesas com ajuda da autarquia.
Quais são os procedimentos necessários para aceder ao PCAAC?
Fazemos a inscrição, se tiverem um rendimento per capita inferior ao limite. Elaboramos a candidatura ao PCAAC, enviando toda a documentação necessária. Depois, é tudo enviado para a sede da AMI e daí seguem todos os pedidos dos centros Porta-Amiga para a Segurança Social, que os avalia. Este apoio é distribuído duas vezes ao ano. Todos os anos os pedidos são revistos, mas as carências não têm diminuído, pelo contrário. Neste momento, temos cerca de 400 famílias inscritas no PCAAC só na zona de Cascais.
Qual a sua opinião sobre o novo Plano de Emergência Alimentar?
Isso ainda está muito confuso. Eu, como profissional, fico muito triste com a questão de as pessoas virem buscar comida. Parece que estamos numa guerra. Por outro lado, se de facto as pessoas vão precisar disto, talvez seja uma solução. Mas já viu o triste que é pessoas que sempre trabalharam terem de agarrar na sua bolsinha e vir buscar a comida? Nem sei se muitos não vão passar fome para não terem de pedir ajuda. Nós temos o refeitório e trabalhamos com as pessoas. Não é só o dar a comida, que é a solução das cantinas. Ajudar as pessoas não é só entregar o saquinho. Tem de haver dignidade.
O que pode acontecer se o PCAAC acabar em 2014?
O PCAAC é uma mais-valia, disso não restam dúvidas. Existem arestas a ser limadas mas, de facto, vai ser um rombo muito grande para muitas famílias.
Os pedidos de apoio costumam ser demorados ao nível de resposta?
É muita gente a pedir e não podemos ajudar toda a gente. Nunca fazemos uma inscrição sem termos possibilidades de começar a ajudar. Marcamos um atendimento social, visitamos a família, se necessário, e depois acompanhamos as famílias. É impossível numa casa como esta dizer que não podemos ajudar porque não temos tempo. Isso não pode acontecer.
Utilidades
Lista de documentos para ser utente:
Fotografia
Bilhete de identidade
Cartão da Segurança Social
Cartão de contribuinte
Cartão de utente de saúde
Comprovativo de renda e de rendimento mensal
Recibo de água, luz ou telefone
Comprovativo de morada
Apoio alimentar na Prática
Para utilizar o Refeitório do Coração, em Cascais, as pessoas colocam o seu nome numa lista e ficam na posse de uma senha. Não existe fila e os utentes são servidos à mesa. Ao almoço, a refeição é completa. Ao jantar, serve-se sopa. Os géneros são distribuídos à terça-feira e as pessoas têm de tirar senha até às 10h30.