Frente a frente, a Casa da Covilhã e o restaurante Bangla, o mais antigo dos 22 restaurantes do Bangladesh que se encontram na Rua do Benformoso, olham-se ao espelho. Anoitece com uma chuva miudinha e alguns sócios da casa regional, onde volta e meia se comem umas favas ou um cozido à portuguesa, assomam às janelas. Vejo-os a partir do Bangla, com um palak paneer (prato de creme de espinafres e queijo) à frente, recordando que há dias um vizinho do meu bairro também me mandou para a minha terra, nas beiras. O ridículo da situação foi recebido com uma gargalhada, do alto do privilégio de portuguesa branca, (ainda) com capacidade económica para viver no centro da capital. A intenção, no entanto, estava lá: ganhar o debate fazendo o outro sentir-se um estranho, fora do grupo. Quando se abrem estas caixas de Pandora…
A questão é que nem a Casa da Covilhã nem o Bangla se refletem por serem entidades estranhas a esta cidade milenar; eles são Lisboa. Tal como o músico e poeta Mostafa Anwar Swapan, 58 anos, que atua em vários bares e casas de concertos da capital. Carregando a sua tambura colina acima, um instrumento de corda semelhante à sitar indiana, com um som do outro mundo, ele é parado mais de uma dezena de vezes por conhecidos que o cumprimentam ou por turistas americanos que lhe pedem para o fotografar.
O “sonho europeu”: pagar 20 mil euros por um visto arranjado por “agentes” vulgarmente conhecidos como máfia, trabalhar, lutar pela legalização, descansar num beliche