Gosto de me lembrar do meu pai sentado num sofá de orelhas, a ler e a rir. As suas gargalhadas anunciavam-se sempre com um primeiro “ah” isolado, que podia ser de espanto, e segundos depois lá vinha a sequência cadenciada e contagiante.
“Parece que estou a ver” – é o que dizemos quando recuamos ao passado na nossa cabeça e desatamos a abrir as gavetas do arquivo de memórias, como se precisássemos de as espreitar para ter a certeza daquilo que vivemos. Hoje, parece mesmo que estou a vê-lo de olhos semicerrados, uma mão a agarrar o livro pousado no colo e a barriga a tremer ao ritmo do ahahahahah.