Tentarmos ser mais felizes torna-nos, pelo contrários, menos felizes. Em poucas palavras, este é o paradoxo da felicidade, um fenómeno estudado há mais de uma década mas que agora encontrou uma nova explicação, pela mão de um grupo de investigadores da Universidade de Toronto, no Canadá.
Transversalmente às diferentes culturas e sociedades, a felicidade é um estado desejado, embora a sua definição não seja nada consensual. Um estudo publicado no Psychological Bulletin classifica mesmo a felicidade como uma das emoções humanas mais universalmente reconhecidas.
O problema? Segundo o paradoxo da felicidade é que quanto mais andamos atrás dela, menos provável é que a alcancemos. Uma investigação no Journal of Experimental Psychology sublinha que quando perseguimos a felicidade, focamo-nos necessariamente no que não temos (se estamos a tentar desesperadamente ser felizes é porque não o somos e sentimos que é porque nos falta alguma coisa) e isso causa frustração ou mesmo angústia e insatisfação. Outro estudo, publicado no Psychonomic Bulletin & Review mostra que as pessoas que gastam mais energia nessa busca pela felicidade tendem a sentir mais pressão e mais falta de tempo. Logo, menos contentamento.
Mas porquê? Foi a esta pergunta que a equipa da Universidade de Toronto se esforçou para responder. As conclusões foram agora publicadas na Applied Psychology: Health and Well-Being: tentar ser mais feliz é mentalmente exaustivo, a ponto de nos fazer perder a capacidade de auto-controlo e força de vontade. Nesse ponto, tornamo-nos mais suscetíveis a tomar decisões auto-destrutivas e que sabotam o objetivo inicial.
“A busca pela felicidade é um pouco como o efeito bola de neve. Decide tentar ser mais feliz, mas depois esse esforço tira-lhe a capacidade para fazer as coisas que o fazem mais feliz”, resume Sam Maglio, coautor do estudo e professor de marketing na Escola de Gestão da Universidade de Toronto. “A questao aqui é que a busca pela felicidade gasta recursos mentais. Em vez de seguir com a corrente, tentamos fazer-nos sentir de forma diferente”.
Este processo de regular “manualmente” os nossos pensamentos, emoções e comportamentos é exaustivo, para o que o que contribui também, notam os investigadores, a multimilionária indústria da auto-ajuda, com a responsabilidade que coloca sobre os ombros de cada um.
Depois de entrevistar centenas de pessoas, os investigadores perceberam que quanto mais se esforçavam para serem felizes, menos usavam auto-controlo no dia a dia, o que os levou a concluir que a busca pela felicidade e o auto-controlo devem “competir” entre si pela mesma fonte finita de energia mental. Nas fases seguintes, pediram aos participantes para cumprir uma série de tarefas e para se submeterem a várias experiências e reforçaram a convicção de que tentar ser “super feliz” não conduz à felicidade, pelo contrário.
Não faltam especialistas, entre psicólogos e estudiosos do tema, a sugerir que melhor do que tentar ser feliz é o foco na gratidão, enquanto apreciação pelo que se tem e se pode fazer no presente, por um lado, e na generosidade, pelo outro – ajudar o outro a ser feliz.