O recluso argelino que fugiu algemado da carrinha celular da PSP à porta do Tribunal da Relação de Lisboa tentou cometer suicídio, na viagem de regresso à capital portuguesa, após ter sido apanhado pela GNR no Algarve, menos de 24 horas depois de conseguir escapar.
O episódio aconteceu na madrugada do passado dia 14 de novembro, em plena A2. Abdelkader Eddouh, 36 anos, seguia numa carrinha celular, com mais sete elementos do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP) – grupo de operações especiais dos guardas prisionais –, quando tentou pôr termo à vida por enforcamento, utilizando o seu próprio cinto.
À VISÃO, fonte dos serviços prisionais conta que “os guardas do GISP foram alertados pelo barulho dos pés [do recluso] a bater no chão da carrinha, quando este já estava a sufocar”. A mesma fonte explica que os guardas prisionais “agiram prontamente” para evitar o suicídio, “parando o veículo em plena A2” e “acedendo ao espaço em que se encontrava o recluso” para travar aquela ação. Abdelkader Eddouh terá recebido pronta assistência médica; o transporte para o Estabelecimento Prisional de Monsanto seria depois concluído sem mais incidentes.
O relato dos acontecimentos chegou às chefias do GISP imediatamente. A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) abriu, entretanto, um inquérito para apurar o que terá falhado nesta operação.

Uma aventura por Lisboa
Abdelkaber Eddouh tinha sido detido na zona de partidas do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, no dia 10 de novembro, ao abrigo de um mandado de detenção europeu emitido pelas autoridades alemãs, que o acusam do crime de fogo posto contra o mobiliário de uma esquadra na Alemanha.
O argelino ficou a dormir duas noites no Comando Metropolitano de Lisboa da PSP (COMETLIS), em Lisboa, mas, no dia 12 de novembro, quando se preparava para ser interrogado pela Relação de Lisboa – tribunal competente para o processo judicial de extradição –, conseguiu fugir. Assim que a porta da carrinha celular abriu, o suspeito começou a correr em plena Baixa de Lisboa, conseguindo escapar aos quatro polícias que o acompanhavam (a PSP também abriu inquérito interno ao sucedido). O recluso terá conseguido libertar uma das suas mãos das algemas. Ainda foi avistado a correr no Chiado, mas acabaria por se “evaporar”.
Menos de 24 horas depois, porém, o recluso argelino seria recapturado na localidade de Estômbar, Lagoa, no Algarve. Abdelkaber Eddouh terá sido visto, por uma vizinha, à janela de uma residência da sua namorada de nacionalidade britânica. O alerta foi prontamente dado à GNR de Lagoa, que rapidamente montou uma operação, e procedeu à detenção do homem.
“Na sequência de uma denúncia de avistamento do suspeito por parte de uma cidadã, foram acionados os militares da Guarda para a localidade de Estômbar, onde foi possível avistar um homem na via pública, cujas características coincidiam com as difundidas pela Polícia de Segurança Pública (PSP) aquando da sua fuga”, explicou a GNR, em comunicado.
Desconhece-se como é que Abdelkaber Eddouh conseguiu chegar ao Algarve, sem documentos nem dinheiro. O recluso argelino já se tinha libertado totalmente das algemas, mas continuava na posse destas. Após ter sido detido, foi levado para o posto territorial de Lagoa da GNR – onde foi formalmente identificado, com apoio da PSP – e, depois, para o Estabelecimento Prisional de Silves. Por questões de segurança, foi decidido transportar este homem para a cadeia de alta segurança de Monsanto logo na madrugada seguinte.
Erro alemão dificultou procura
Abdelkaber Eddouh era procurado pelas autoridades alemãs desde o ano passado, mas um erro no preenchimento do mandado de captura internacional pela Alemanha (com data de 23 de novembro de 2023) dificultou a localização do homem.
Segundo informação divulgada pelo Sistema de Segurança Interna (SSI) o mandado de detenção foi erradamente inserido pela Alemanha no sistema de troca de informações policiais, pois era dirigido a um cidadão marroquino, e não a um argelino.
A troca de nacionalidades permitiu a Abdelkader Eddouh continuar a residir com a namorada no Alvor, Portimão, no Algarve, tendo chegado a conseguir renovar a residência em Portugal no dia 31 de maio deste ano – a primeira autorização de residência que recebeu foi emitida em 2022, pelo ex-Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
De acordo com informações do SSI, o mandado em nome de Abdelkaber Eddouh foi alterado pelas autoridades alemã, no passado dia 18 de junho, permitindo corrigir a informação sobre a nacionalidade (argelina) de Abdelkaber Eddou.
Com esta informação atualizada, as autoridades portuguesas puderam identificar e deter o homem quando este se preparava para sair do País, via aeroporto de Lisboa. A partir de Monsanto, Abdelkaber Eddou continua a opor-se à extradição para a Alemanha.