“Já viste como aquela pessoa começou a olhar para ti?” No início, o comentário foi encarado como um sinal de cuidado. Catarina (nome fictício), 36 anos e freelancer em marketing, a viver sozinha, em Lisboa, só voltou a pensar nisso quando foi acometida de um crescente mal-estar na companhia da pessoa com quem pensava ter tanto em comum. Do “tens a certeza que vais sair com essa camisola?” ao “achas mesmo que a tua família te apoia?”, cada observação era recebida como uma reprovação subtil.
Após seis meses de convivência íntima, tornou-se evidente que estava perdida, duvidava do seu valor enquanto pessoa e também no local de trabalho, onde se conheceram. Com a pandemia pelo meio, tudo se agravou e a sensação de isolamento abalou-a ainda mais, levando-a a questionar se ele era, de facto, o único a zelar pelos seus interesses, como fazia crer.