Um estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Lipscomb, no estado norte-americano do Tennessee, concluiu que várias capas e ilustrações de livros mais antigos – do final do século XIX e início do século XX – podem conter níveis elevados de toxinas nocivas para a saúde, como o chumbo e o crómio. Tal deve-se ao facto de, durante estes séculos, terem sido utilizados compostos corantes, pelos editores das obras, nas suas capas de forma a realçar a cor da obra.
“Estamos a falar de um período de tempo em que as pessoas queriam apenas o brilho, a luminosidade destes corantes”, explicou Joseph Weinstein-Webb, professor de química na Universidade Lipscomb. “Isto foi antes de compreendermos os perigos tóxicos dos metais pesados”, adicionou.
Os corantes utilizados estariam, na verdade, cheios de metais tóxicos – como o arsénio, o crómio e o chumbo – conhecidos por provocar doenças como cancro e infeções pulmonares. Analisada no âmbito do estudo, por exemplo, uma edição do livro “A mão invisível”, de Adam Smith, publicada na década de 1880, continha mais de duas vezes e meia a quantidade de chumbo permitida nos Estados Unidos atualmente.
No total, a equipa de cientistas analisou 26 obras diferentes recorrendo a três técnicas de análise como a XRF (fluorescência de raios X), a espectroscopia de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado – para medir a quantidade de metal presente – e, por fim, a difração de raios X, para identificar as moléculas de pigmentos específicas que continham estes metais. As descobertas levaram a biblioteca da universidade a retirar os livros do século XIX, que ainda não tinham sido testados, de circulação pública.
A investigação surge no âmbito do projeto Poison Book, uma iniciativa patrocinada pelo museu Winterthur, Garden & Library e Universidade de Delaware, criada em 2019. Este dedica-se à identificação e catalogação de livros antigos que possam provar-se um perigo para a saúde pública.
Como é que estes livros se podem tornar perigosos para a saúde?
Sendo tóxicos, estes pigmentos podem ter consequências graves para a saúde ao entrarem em contacto com as mãos quando se manuseia os livros ou através da sua inalação. A exposição prolongada a estas substâncias pode provocar doenças como o cancro, lesões pulmonares e problemas de fertilidade. “Acho fascinante saber o que as gerações anteriores pensavam ser seguro e depois ficamos a saber que, na verdade, pode não ter sido uma boa ideia utilizar estes corantes brilhantes”, explicou Weinstein-Webb.
O estudo realça um potencial risco para a saúde pública que nunca tinha sido estudado anteriormente. “Estes livros antigos com corantes tóxicos podem estar em universidades, bibliotecas públicas e coleções privadas”, contou Abigail Hoermann, estudante de química na Universidade de Lipscomb. “Por isso, queremos encontrar uma forma de facilitar a todos a descoberta da sua exposição a estes livros e a forma de os guardar em segurança”, acrescentou.
Futuramente, os investigadores pretendem desenvolver uma ferramenta que facilite a identificação destes químicos nas obras mais antigas. “Esperamos poder evitar a exposição crónica a longo prazo a metais pesados”, concluiu Weinstein-Webb,
A equipa, afeta à Universidade de Lipscomb, irá apresentar as conclusões do estudo na reunião da American Chemical Society, marcada para outubro.