Quando se ouve o carrinho das bebidas a deslizar pelo corredor do avião, já sabemos a pergunta que lá vem: “Chá, café, água?”, pergunta um dos tripulantes. Nessa ocasião, quantos de nós já não pensámos que, na verdade, o que nos apetecia mesmo era vinho, cerveja ou um fresco mojito, um moscow mule, uma caipirinha, uma margarita… enfim, desejos.
Um voo de muitas horas pode ser uma tormenta para os passageiros com dificuldade em adormecer no lugar apertado, com a cabeça pendurada, e descansar enquanto sobrevoa a Terra. Mas, consumir bebidas alcoólicas durante o voo tem mais inconvenientes do que vantagens para a saúde.
No início de junho foi publicado um pequeno estudo que aborda a existência de alguns riscos associados ao consumo de álcool em aviões, especialmente em voos mais longos, quando a intenção é dormir. A altitude é o fator que determina as desvantagens.
À medida que um avião sobe, o nível de oxigénio desce, tanto no interior da cabina como no sangue. O consumo de álcool pode aumentar a frequência cardíaca, mas reduz ainda mais os níveis de oxigénio no sangue durante o sono.
O novo estudo foi o primeiro a analisar os efeitos combinados da altitude e do álcool, segundo Eva-Maria Elmenhorst, investigadora do Instituto de Medicina Aeroespacial de Colónia, na Alemanha, que o liderou.
A experiência contou com 48 adultos saudáveis, com idades entre os 18 e os 40 anos. Metade terminou o estudo num laboratório do sono com pressão atmosférica normal, os restantes dormiram em beliches numa câmara de altitude com pressão atmosférica semelhante à de um avião a voar.
As 48 pessoas dormiram da meia-noite às quatro da manhã durante duas noites: uma em que estavam sóbrias e outra depois de terem bebido o equivalente a duas latas de cerveja (5% de teor alcoólico) ou dois copos de vinho (175 ml, 12% de teor alcoólico). A dormir, todos estava a apetrechados com dispositivos para medir os níveis de oxigénio no sangue, frequência cardíaca e as fases do sono.
Quem dormiu com a pressão atmosférica normal registou um nível médio de oxigénio no sangue de 96% na noite em que estavam sóbrios e 95% na noite em que beberam. Mas para os que dormiram na câmara de altitude, os níveis de oxigénio eram de 88% quando estavam sóbrios e de 85% depois de beber – os níveis normais de oxigénio no sangue são normalmente superiores a 95% em pessoas saudáveis, note-se.
Quanto à frequência cardíaca, a média durante o sono com pressão atmosférica normal aumentou de 64 batimentos por minuto quando sóbrio para 77 depois de beber; e em câmara de altitude, de 73 batimentos por minuto quando sóbrio para 88 depois de beber.
Quando os níveis de oxigénio no sangue descem e a frequência cardíaca aumenta e existe uma sobrecarga do sistema cardiovascular, levando o coração a trabalhar mais para compensar a diminuição do oxigénio.
Para quem é saudável esse tipo de tensão cardíaca pode provocar algum cansaço. Mas para quem tem problemas cardíacos ou respiratórios, como insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crónica ou apneia do sono, poderá ficar com tonturas e sem fôlego. Significa que quanto mais beber, maior a probabilidade de poder passar por uma emergência médica durante o voo.
Uma vez que o consumo de álcool também desidrata o organismo, pode aumentar ligeiramente o risco de desenvolver coágulos sanguíneos nas pernas ou nos pulmões.
Por o álcool ser um sedativo, quanto mais perto da hora de ir dormir for consumido, mais depressa provocará sonolência. No estudo, em média, aqueles que dormiram na câmara de altitude demoravam 19 minutos para adormecer sóbrios e 12,5 minutos depois de beber.
Mas à medida que o corpo decompõe o álcool, a qualidade do sono piora e a pessoa acorda mais amiúde e no dia seguinte irá sentir-se mais cansado. Os participantes que dormiram na câmara de altitude passaram menos tempo em sono profundo e REM do que aqueles que dormiram com pressão atmosférica normal. O álcool comprometeu ainda mais o sono: acordaram com mais frequência e, em comparação com 22 minutos de sono REM quando sóbrios, registaram 14,5 minutos depois de beber.
Da próxima vez que andar de avião, em vez de pedir latas de cerveja ou meias garrafas de vinho, quando o comandante desligar as luzes, coloque uma máscara a tapar os olhos, use tampões nos ouvidos ou ouça música calma, ruído branco ou um podcast nos auriculares, sem qualquer tipo de pressão para se obrigar a dormir. O dia seguinte será melhor do que estar de ressaca.