A reorganização da extrema-direita portuguesa surge ao mesmo tempo que aumenta o discurso racista e xenófobo no espaço público. Como é que voltámos aqui?
A História já nos mostrou, diversas vezes, como isto acontece. Normalmente, há uma confluência de fatores que explicam o aumento do racismo e da xenofobia, pequenas falências dos sistemas político, económico e social, que agravam as dificuldades, as desigualdades e a insatisfação das pessoas comuns. Quando se instala uma perceção coletiva de crise, isso aumenta a competição entre grupos. E, depois, as pessoas comuns acabam por ser influenciadas por ideias fabricadas, que são depreciativas em relação a quem é considerado um “intruso”.
É possível relacionar o crescimento de um partido da direita radical populista, como o Chega, que tem um discurso anti-imigração, anti-Islão, com este reaparecimento da extrema-direita?
O que vemos, um pouco por todo o mundo – e Portugal não é exceção –, é que o aparecimento destas forças partidárias alimenta as tais perceções coletivas negativas sobre certos grupos. O objetivo destes discursos é o de retirar vantagens políticas, culpando as minorias por todos os problemas, criando bodes expiatórios. Isto é discurso de ódio, que desumaniza os “outros”, promove o racismo e a xenofobia. E não tenho dúvidas de que o aparecimento do Chega contribuiu para a situação atual.