O mundo continua a girar sobre si próprio e em volta do Sol, mas parece que, não obstante esse movimento ininterrupto, de tempos a tempos – mais concretamente, de dois em dois anos –, volta exatamente ao mesmo sítio e deixa toda a gente – bem, não será bem toda, mas uma quantidade considerável, sobretudo no nosso país – a discutir o mesmo assunto: deve, ou não, Cristiano Ronaldo continuar na Seleção Nacional? Se há três anos, quando se disputou o Europeu (que deveria ter acontecido um ano antes, mas teve de ser adiado por causa da pandemia), um largo consenso apontava que o melhor do mundo ainda tinha plenas condições para continuar a ser uma mais-valia para a equipa das quinas, depois do Mundial de 2022, no Catar, a discussão subiu de intensidade, sobretudo após Portugal ter sido afastado do torneio nos quartos de final, com Cristiano obrigado a sentar-se no banco por Fernando Santos. O resultado, todos se lembram, foi o craque a deixar, sozinho e em lágrimas, o estádio e o selecionador a ser despedido uns dias depois. Achava-se que, com um novo treinador, o tema seria enterrado, mas Roberto Martínez não só trouxe o jogador de volta à Seleção como lhe deu tanto ou mais tempo de jogo do que o seu antecessor, nomeadamente durante este Campeonato da Europa da Alemanha. Com o desempenho do craque madeirense, já com 39 anos, a revelar-se, no mínimo, medíocre e a seleção a voltar a cair nos quartos de final, coloca-se de novo a questão: será desta vez que Cristiano Ronaldo dá o seu lugar a outro ou vamos continuar a ter o avançado do Al-Nassr a participar na Liga das Nações e a apontar ao Mundial de 2026?
Até ao momento, e apesar de a Seleção Nacional já ter sido eliminada pela França na sexta-feira da semana passada, dia 5, ninguém veio ainda esclarecer este tema. Por parte da direção da Federação Portuguesa de Futebol, o silêncio é absoluto. O selecionador nacional, o qual o comentador televisivo Bruno Prata acusava, há semanas, nos ecrãs da RTP, de “ver borboletas onde toda a gente vê lagartas”, passou todo o torneio sem explicar a razão de tanto tempo dado a Ronaldo, limitando-se a lembrar que ele “é um exemplo”. Isto apesar de não ter marcado um único golo nos quase 500 minutos em que esteve em campo durante a competição, tendo sido o português, além do guarda-redes Diogo Costa, que mais tempo jogou durante o Euro 2024. As únicas palavras que se conheceram sobre o tema vieram do próprio jogador, que, através das suas redes sociais, veio agradecer o apoio dos adeptos, lamentar o desaire, dizer que a equipa merecia mais e garantir que “o legado vai continuar a ser construído”. Acrescentou, no fim do texto, a palavra “juntos”, deixando no ar a ideia de que a sua vontade é a de continuar a servir a Seleção Nacional. E agora?