O ISTSat-1 – nome dado ao primeiro nanosatélite universitário – foi totalmente desenvolvido e fabricado em Portugal por uma equipa do Instituto Superior Técnico. O “pequeno cubo português”, que vai ter à prova a sua capacidade de deteção da presença de aviões em zonas remotas, ruma ao espaço, a bordo do foguetão europeu Ariane 6, já na próxima terça-feira, dia 9 de julho, entre as 18h e às 21h (hora de Lisboa). “Estamos certos que o lançamento deste ISTSat-1 será um momento histórico, será lembrado no futuro como um momento fundacional de tudo o que aprendemos na construção de um satélite em Portugal”, referiu Rogério Colaço, presidente do Instituto, através de um comunicado.
Em declarações à VISÃO, Moisés Piedade, docente jubilado do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores do Técnico, falou sobre o projeto, cuja ideia remonta a 2008, há dezasseis anos. “É a primeira vez que fazemos um satélite do zero”, refere. “Fomos fazendo placas eletrónicas que envolvem muito software e hardware e neste momento o nosso satélite tem seis computadores a bordo”, explica. O dispositivo, que começou a ser construído em 2017, contou com o contributo de cerca de cinquenta pessoas, entre as quais vários professores e alunos do Instituto de ensino superior.
“A nossa visão foi, de facto, passar por todo o processo de desenvolvimento de sistemas para espaço. Conseguimos desenvolver uma série de áreas ensinadas no técnico para um objetivo comum, o que foi muito gratificante. Também é uma das razões por que nós achamos que o projeto é importante”, referiu Piedade. Para o professor, uma das áreas chave deste projeto terá sido o envolvimento de alunos das diferentes áreas de especialização lecionadas no Instituto Superior Técnico. O processo de desenvolvimento e construção do pequeno aparelho espacial resultou em várias dissertações de mestrado e doutoramento. “São projetos que obrigam os alunos a falar uns com os outros das várias áreas, o que lhes adianta em termos de formação profissional”, explica.
O pequeno cubo – com arestas com 10cm – explora o potencial da nanotecnologia na eletrónica. Apesar do tamanho reduzido, Piedade refere que a tecnologia utilizada na produção do aparelho é bastante sofisticada. “Em termos de sistema de informação, eletrónica e telecomunicações é bastante avançado, o que nos dá algum orgulho”, afirma. O satélite foi entregue, ainda durante o mês de março, à Agência Espacial Europeia, depois de ter passado todos os testes e certificações exigidas. “Para nós, foi o ponto alto, foi o cumprir do objetivo”, reflete Piedade.
Uma vez no espaço, o ISTSat-1 será projetado do foguetão de forma a cumprir a sua missão sozinho. O nanosatélite, que se irá encontrar a cerca de 580 quilómetros da Terra, terá por objetivo transmitir algumas estações terrestres, habilitadas pelo projeto, dados sobre o posicionamento de aviões, visíveis apenas a partir do espaço. “Os sinais enviados pelo satélite são enviados em canal aberto, podendo ser recebidos por radioamadores de todo o mundo. No entanto, apenas da estação-terrestre do Técnico conseguirá transmitir para o satélite e apenas a equipa do Técnico conseguirá configurar necessidades que surjam ou pedir diagnósticos mais finos da missão para além dos que poderão ser descodificados em canal aberto”, refere o comunicado. O aparelho espacial permanecerá no espaço durante um período de cinco anos até regressar à terra – esperando-se que seja incinerado ao entrar na atmosfera.
“Este projeto apresenta um sistema de engenharia que envolve várias componentes, desde engenharia eletrotécnica, engenharia mecânica, comunicações, protocolos e software. É um projeto multidisciplinar ótimo para ajudar a formar bons profissionais de engenharia e, portanto, algo que deve ser acarinhado na escola”, concluiu Rui Rocha, professor do Instituto e coordenador do projeto, também no comunicado.
Para além do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores do Técnico o projeto contou ainda com a colaboração do Instituto de Telecomunicações e do IST NanosatLab.
Para celebrar o lançamento do equipamento espacial, o Instituto Superior Técnico organizou um evento, marcado para o dia do lançamento do Ariane 6, no polo de Oeiras.