O ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Ricardo Lewandowski, admitiu que a organização criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC) possa estar presente em Portugal, confirmando a notícia, publicada em primeira mão, pela VISÃO, em outubro de 2022.
À margem de um encontro com responsáveis da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorreu na tarde de quinta-feira, na sede da instituição, em Lisboa, Ricardo Lewandowski admitiu que “todos os países enfrentam a criminalidade organizada”, e que “é possível que alguns membros de fações criminosas tenham vindo para Portugal, até pela facilidade da língua e pelo tradicional acolhimento que Portugal dá aos brasileiros”.
O ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil abordou este tema no encontros com as ministras da Justiça, Rita Júdice, e da Administração Interna, Margarida Blasco, nos encontros que manteve, esta semana, com as autoridades portuguesas, durante a sua visita oficial.
Recorde-se que, após vários anos de suspeitas e especulações, a VISÃO confirmou, junto das autoridades brasileiras, a presença em Portugal daquela que é considerada a mais poderosa e perigosa organização criminosa da América Latina. Uma investigação do Ministério Público de São Paulo, conduzida pelo procurador Lincoln Gakiya, concluiu que, pelo menos, 42 membros do PCC tinham residência fixa no País no final de 2021.
À VISÃO, Bruno Manso, jornalista e investigador da Universidade de São Paulo, autor de livros de referência sobre o PCC, também já tinha afirmado que a presença desta organização criminosa em Portugal “não surpreende”.
O que é o PCC?
Fundado no dia 31 de agosto de 1993, o PCC começou por ser uma resposta ao episódio que ficaria conhecido como Massacre do Carandiru. Dez meses antes, no dia 2 de outubro de 1992, uma rebelião no interior da Casa de Detenção de São Paulo (chamada de Carandiru), sobrelotada com mais de sete mil pessoas, seria brutalmente reprimida pela Polícia Militar, que executou 111 detidos.
O PCC surgiu como “sindicato” dos presos, cansados das más condições de vida nas prisões brasileiras, através do qual pretendiam reivindicar mais e melhores direitos. Gradualmente, porém, o grupo foi invertendo a relação de forças.
A partir das prisões, saiu para as ruas, começando por se dedicar a assaltos e sequestros apenas no estado de São Paulo, até que o negócio do tráfico internacional de drogas permitiu à organização dar um “salto”. Com o passar dos anos, o PCC tornar-se-ia a mais poderosa e perigosa organização criminosa da América Latina, atuando com extrema violência e crueldade, autora de incontáveis assassinatos de integrantes e opositores.
Ultrapassou a concorrência (como o Comando Vermelho, grupo com origem no Rio de Janeiro), passando a controlar o submundo do crime em todo o território brasileiro e o rentável negócio de tráfico internacional de drogas e armas para os Estados Unidos e a Europa.
Em dezembro de 2023, a VISÃO contou a história de Luís Miguel J., que terá sido o primeiro membro português do PCC. Natural da Amadora, Luís Miguel J. terá sido “batizado” (como se designa quando alguém entra nesta “família”) quando partilhava a cela numa prisão em Barcelona com um membro brasileiro daquela organização criminosa.
Com (apenas) 40 mil membros, o PCC conta ainda com uma networking que envolve pessoas em países da América do Sul, dos Estados Unidos, de África e da Europa – e é descrito pelas autoridades brasileiras como “o grande problema”.