Dedicadas a celebrar o Santo Padroeiro da cidade de Lisboa, as festas de Santo António realizam-se a 13 de junho. Às festividades, espalhadas um pouco por toda a cidade, estão associadas várias tradições e símbolos com séculos de história que ainda hoje são celebrados.
Em honra de Santo António, o dia 13 de junho é celebrado há vários séculos pelos habitantes da cidade de Lisboa, incluindo tradições como fogueiras e cortejos, que evoluíram para o que hoje se conhecem como arraiais populares. Segundo o Museu da cidade de Lisboa, este era também um dia celebrado pela família real, que visitava a igreja na véspera, de forma a presentear o povo com ofertas, como os típicos bolos de Santo António. Comemorado por várias freguesias e bairros da cidade, as celebrações geralmente terminavam com um espetáculo de fogo-de-artifício e sessões de touradas no Rossio ou Terreiro do Paço.
Estas festas ficaram também conhecidas pelos “Tronos de Santo António”, uma tradição do século XVIII que envolvia a construção de pequenos altares ao santo para adornar janelas e soleiras de portas. Os tronos, que ainda hoje existem, tornaram-se populares após o terramoto de Lisboa de 1755, como forma de pedir esmolas para a reconstrução da Igreja de Santo António.
Santo António é padroeiro da cidade de Lisboa?
Esta é uma das dúvidas que mais parece surgir durante esta altura do ano. Será Santo António o santo padroeiro da cidade? De acordo com o site da Sé de Lisboa, igreja que “que viu crescer Santo António e guarda as relíquias de São Vicente”, este primeiro é considerado o verdadeiro padroeiro da cidade, sendo o segundo, São Vicente, o padroeiro principal do Patriarcado. Já a Nossa Senhora da Conceição é – a par de Santo António desde 1934 – a padroeira principal de Portugal.
Sendo um dos santos mais populares da Igreja Católica, reza a lenda que Santo António terá nascido em Lisboa, em 1195 numa casa onde, posteriormente, terá sido construída uma igreja em sua homenagem. Tendo dedicado a sua vida a ajudar os pobres sabe-se que Santo António terá vivido em Lisboa, Coimbra e, mais tarde, Pádua, em Itália, onde veio a falecer a 13 de junho de 1231. São-lhe atribuídos vários milagres, enquanto membro da Ordem dos Franciscanos e professor de Teologia na Itália, contudo, em Portugal, Santo António ficou sobretudo conhecido pelo título “Santo casamenteiro”, por ser um conciliador de casais – decorrendo, por isso, na véspera do dia da sua morte, os famosos Casamentos de Santo António.
Apesar de ser o padroeiro de Lisboa, outras zonas do País também celebram esta data, entre as quais, Aljustrel, Alvaiázere, Amares, Cascais, Estarreja, Ferreira do Zêzere, Proença-a-Nova, Reguengos de Monsaraz, Vale de Cambra, Vila Nova da Barquinha, Vila Nova de Famalicão, Vila Real e Vila Verde.
Casamentos de Santo António
Os casamentos de Santo António são uma das tradições mais aguardadas nas celebrações das festas de Lisboa. Tradicionalmente, cerca de 16 casais “dão o nó” através de uma cerimónia religiosa, transmitida na televisão, que ocorre sempre a 12 de junho, na Sé de Lisboa. Esta iniciativa – que começou em 1958 com o nome original “Noivas de Santo António” – nasceu de uma proposta apresentada numa reunião de câmara de Lisboa pelo vereador Augusto Pinto. Contudo, foi o jornal Diário Popular o seu grande impulsionador. O órgão de comunicação – extinto em 1991 – foi o principal responsável pela promoção, financiamento e organização do evento, tendo mobilizado “a sociedade civil, criando uma onda de simpatia, captando e noticiando apoios de particulares, estabelecimentos e marcas comerciais”, conforme afirmam os arquivos da autarquia disponíveis na Hemeroteca de Lisboa.
A primeira edição dos casamentos de Santo António aconteceu a 13 de junho de 1958, com 36 casais a participarem. A iniciativa, que ainda mantém o seu propósito inicial, tem por objetivo possibilitar o casamento a casais com maiores dificuldades financeiras. Desde os véus das noivas, os sapatos utilizados pelos noivos, todas as despesas resultantes das cerimónias dos 36 casais são pagas pelos principais patrocinadores.
Terá sido o jornal a organizar aspetos essenciais do evento, como a angariação de padrinhos, vestidos e ramos das noivas, alianças, lua de mel e até a atribuição de prémios para os participantes que iam desde as mobílias e eletrodomésticos aos apartamentos – entregues em algumas das edições. O Diário Popular atribuiu ainda a cada casal 500 escudos – cerca de dois euros e meio atualmente – para as primeiras despesas de casados bem como burocracias necessárias para o casamento dos participantes.
Para além do Diário Popular, também a Câmara Municipal de Lisboa e a Santa Casa da Misericórdia estiveram envolvidos na organização da iniciativa contribuindo com as despesas do copo de água – que aconteceu nos Paços do Concelho – e com a atribuição de cerca de 12 mil escudos – aproximadamente 60 escudos agora – a cada casal, respetivamente.
A iniciativa transformou-se numa tradição repetindo-se até 1974, altura em que foram interrompidos após dezasseis edições. Os casamentos só voltaram a acontecer trinta anos depois, em 2004, quando a Câmara de Lisboa decidiu reavivar a tradição.
Marchas populares
Já a criação das marchas populares remonta à época do Estado Novo. As primeiras decorreram a 12 de junho de 1932, no Parque Mayer, com os “ranchos” do Bairro Alto, Campo de Ourique e Alto do Pina. O grande objetivo das Marchas Populares seria, primeiramente, a promoção do próprio parque, criado no início do século.
Pouco anos depois, as marchas passaram a estar integradas no programa das Festas de Lisboa, acabando por se tornar muito um dos pontos altos das celebrações e muito populares entre os lisboetas. Organizado pela Câmara de Lisboa, dois anos depois do seu início, as marchas passaram a integrar 12 bairros e cerca de 800 pessoas que desfilavam do Terreiro do Paço ao Parque Eduardo VII.
À semelhança dos casamentos de Santo António, as marchas terminaram com o fim do regime, regressando apenas em 1980, já na Avenida da Liberdade, com marchas dos diferentes bairros de Lisboa.
Manjericos e Sardinhas
A sua associação às romarias e arraiais das sardinhas e manjericos pouco têm a ver com as celebrações dos Santos populares, sendo um símbolo das festas um pouco por todo o País.
Abundante durante esta época do ano, as sardinhas foram-se associando às festas populares pela imensa oferta e baixo preço. Já os manjericos, associados ao amor, acredita-se que começaram a ser oferecidos entre casais, por serem uma planta popular durante a altura do ano. De acordo com a tradição, ao receberem um manjerico do seu amado, as namoradas deveriam cuidar da planta durante um ano até este ser substituído, por um novo, no ano seguinte. Para além da planta, é comum o vaso ser decorado com pequenos versos populares alusivos ao amor.