Com apenas quatro ingredientes na sua composição – água, malte de cevada, lúpulo e levedura – a cerveja é uma das bebidas mais populares entre os portugueses, especialmente durante os meses de verão. Consumida há já vários séculos, a ingestão de cerveja é considerada um momento de partilha entre as pessoas ao estimular o convívio e a socialização. Muitas vezes tomada em demasia, está geralmente associada aos perigos que o consumo excessivo de álcool tem para o organismo humano. No entanto, são vários os benefícios da cerveja.
Fermentada através de um processo natural, a cerveja é, na realidade, uma bebida que possui benefícios para a saúde, quando consumida com moderação. Sem adição de químicos ou preservantes, é muito rica em água bem como diferentes vitaminas, minerais e compostos que ajudam a regular vários sistemas do organismo e com efeitos positivos para quem as ingere. Mais recentemente, a produção de cerveja tem vindo a desenvolver-se cada vez mais, por exemplo, com a criação de versões sem álcool e sem glúten, que se adaptam às dietas e estilos de vida de cada pessoa.
É de notar, contudo, que qualquer consumo de bebidas alcoólicas deve ser feito de uma forma responsável e com compreensão dos riscos nocivos que o mesmo tem no organismo quando ingerido em excesso.
Ao longo das últimas décadas têm existido sido desenvolvidos vários estudos científicos que demonstram os benefícios desta bebida:
Diminuição do risco de pedras nos rins
Com um elevado teor de água na sua composição – geralmente situado entre os 90 e os 95% – e ainda menor teor alcoólico, a cerveja é uma bebida que estimula a hidratação do organismo e aumenta os fluídos urinários, reduzindo, assim, o risco de desenvolvimento de pedras nos rins. Segundo um estudo, publicado em 1999, pelo Instituto Nacional de Saúde Pública de Helsínquia, na Finlândia, “cada garrafa de cerveja consumida por dia pode reduzir o risco [do surgimento desta patologia] em 40 por cento”.
Esta investigação, disponível na revista científica American Journal of Epidemiology, utilizou uma amostra de quase 27 mil homens para verificar a correlação entre a ingestão da bebida alcoólica e o desenvolvimento da doença renal. Ademais, os cientistas envolvidos no estudo concluíram também que o teor de álcool presente na cerveja aumenta ainda o processo de eliminação de cálcio do organismo – um dos principais constituintes das pedras nos rins.
Protege de doenças do coração e reduz o risco de AVC
Está cientificamente comprovado que o consumo moderado de bebidas com baixo teor alcoólico – como a cerveja – tem efeitos positivos na prevenção de doenças cardiovasculares. Um desses efeitos positivos passa pelo aumento de valores de HDL – também conhecido como o “bom colesterol” – e pela redução da rigidez arterial. Os seus componentes estimulam a maior flexibilidade dos vasos sanguíneos reduzindo, assim, o risco de fixação de placas de gordura e outras substâncias nas paredes das artérias – uma das principais causas do desenvolvimento de problemas cardíacos.
Segundo um estudo publicado em 2020 – e que contou com a participação de investigadores da NOVA Medical School – a ingestão de cerveja está também associada a uma melhoria da “microbiota intestinal”. “O consumo de cerveja contribui para a melhoria da composição da microbiota intestinal, fator que tem sido associado à prevenção de doenças crónicas muito comuns, tais como a obesidade, a diabetes e as doenças cardiovasculares”, poderá ler-se no estudo, publicado na revista científica Journal of Agricultural and Food Chemistry.
Já um estudo conduzido pela Universidade de Medicina de Harvard, em conjunto com a Associação Americana Stroke, concluiu que o consumo moderado de cerveja está também relacionado com a redução do risco de acidentes vasculares cerebrais. Tal deve-se, mais uma vez, ao facto de o fluxo sanguíneo melhorar após o consumo da bebida, impedindo a formação de coágulos de sangue que resultem na doença.
Fortalece os ossos
Um dos compostos que integra a cerveja é um mineral denominado silício. Esta substância desempenha um papel importante no crescimento e fortalecimento dos ossos, sendo também o principal responsável pela manutenção de colagénio e prevenção de fraturas ósseas. Em 2009, uma equipa de investigadores da Universidade de Tufts, nos EUA, verificou que a cerveja possui elevados níveis deste mineral, sendo benéfico para o fortalecimento dos ossos humanos.
Publicada na revista científica American Journal of Clinical Nutrition, a investigação envolveu dados de quase três mil pessoas, tendo concluído que a ingestão de apenas dois copos de cerveja por dia pode ser o suficiente para aumentar os níveis de silício no organismo e reduzir o risco de fração dos ossos. O estudo revelou ainda este composto é especialmente benéfico para mulheres que se encontrem em pós-menopausa, um período onde, geralmente, surgem doenças como a osteoporose.
Contudo, a ingestão em excesso deste mineral poderá resultar nos efeitos inversos, aumentando o risco de fração dos ossos.
É baixa em calorias e diminui o risco de diabetes
Ao contrário de outras bebidas alcoólicas, a cerveja possui valores calóricos relativamente baixos – comprovando assim que o mito de “barriga de cerveja” não é totalmente verdade. Porém, o valor calórico desta bebida aumenta consoante o seu teor alcoólico, uma vez que cada grama de álcool equivale a 7 calorias.
De acordo com o mesmo estudo de 2020, a cerveja demonstra ser benéfica para a diminuição do risco de diabetes. Ao conter antioxidantes na sua composição – mais conhecidos por polifenóis, parte de um dos ingredientes da cerveja, o lúpulo – estes compostos têm sido considerados eficazes no aumento da sensibilidade à insulina, podendo ser utilizados no tratamento de diabetes Tipo 2. A cerveja não é, contudo, a única bebida alcoólica com este benefício, uma vez que o vinho tinto é também uma fonte de polifenóis.
É rica em vitaminas, antioxidantes e minerais e ajuda a perder peso
Criada a partir de ingredientes de origem natural – água, cereais, lúpulo – os componentes base da cerveja da cerveja contribuem para que a bebida não precise de conservantes, corantes e outras substâncias químicas. Já a diversidade de cereais utilizados na sua produção contribui para uma composição nutricional rica, incomum em bebidas alcoólicas. A cerveja é, assim, rica em proteínas e vitaminas como vitaminas do complexo B, vários minerais – como o magnésio, silício e potássio – e fibras – provenientes dos cereais como a cevada, trigo ou milho.
Consumida com moderação, esta bebida pode até mesmo ajudar quem está a tentar perder peso. Um estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade do Oregon, nos EUA, revelou que o xanthohumol – um componente encontrado nos lúpulos – pode ser eficaz na perda de gordura. A equipa recorreu a uma mostra de 48 ratinhos de laboratório – divididos em dois grupos – analisando a sua resposta ao álcool quando sujeitos a dietas com um alto teor de gordura. Num dos grupos – ao qual não foi administrado xanthohumol – os ratinhos aumentaram de peso durante o período analisado. Já a amostra que consumiu o composto mostrou uma diminuição significativa dos seus níveis de colesterol bem como uma menor percentagem de aumento de peso.
O consumo de cerveja pode ainda mostrar-se benéfico para pessoas que praticam muito exercício físico. Ao possuir elevadas concentrações de vitaminas do complexo B, sódio, magnésio e grandes quantidades de água na sua composição, a cerveja – especialmente a não alcoólica – é uma excelente fonte de hidratação para quem leva um estilo de vida mais ativo.
Pode ajudar quem tem insónias
O consumo de cerveja está ainda associado ao tratamento de insónias, ao estimular a produção de dopamina no cérebro – um componente geralmente prescrito a pessoas que têm dificuldade em adormecer.
Segundo um estudo conduzido por um grupo de cientistas da Universidade de Indiana, nos EUA, só o ato de provar cerveja tem efeitos calmantes e relaxantes. A investigação, publicada em 2013 na revista científica Neuropsychopharmacology, revelou que mesmo sem álcool, os compostos da cerveja são suficientes para provocar uma descarga de dopamina no cérebro, acalmando o consumidor. “Acreditamos que esta é a primeira experiência em seres humanos a mostrar que o sabor de uma bebida alcoólica por si só, sem qualquer efeito intoxicante do álcool, pode provocar esta atividade dopaminérgica nos centros de recompensa do cérebro”, referiu David Kareken, professor de neurologia envolvido no estudo.