8 de junho de 1924. George Mallory e Andrew ‘Sandy’ Irvine foram vistos pela última vez, quando estavam a cerca de 245 metros do cume do Everest. Depois, desapareceram. Vinte e nove anos mais tarde, foi confirmada a primeira chegada ao topo. Depois de oito expedições para tentar o feito, a nona levaria Tenzing Norgay e Edmund Hillary ao ponto mais alto da emblemática montanha, pela primeira vez na história. Ou George Mallory e Andrew ‘Sandy’ Irvine já lá tinham chegado quase décadas antes? O facto de os dois alpinistas britânicos terem desaparecido deixou sempre a dúvida no ar.
O corpo de Mallory foi encontrado em 1999, mas com ele não estava a câmera com que se acredita filmou a subida e que poderia fornecer, finalmente, pistas sobre até onde teriam os dois chegados. Já o corpo de Irvine nunca foi recuperado.
Agora, quase 100 depois, um investigador acredita ter resolvido o mistério. Graham Hoyland, que já fez visitou o Evereste nove vezes em expedições de busca pelos corpos de George e Andrew, analisou os vários dados disponíveis sobre as condições do tempo no dia em que o par desapareceu e está convencido que a chave para resolver o enigma está na pressão atmosférica.
Hoyland é parente afastado de um dos outros elementos da expedição de que faziam parte os dois alpinistas desaparecidos, Howard Somervell, que chegou a uma distância de mil pés do topo, quando uma falha no abastecimento de oxigénio o forçou a descer. Howard Somervell tinha, precisamente, a missão de controlar o tempo durante a expedição e os seus registos mostram que a pressão barométrica caiu entre as manhãs de 8 e 9 de junho no campo base a partir de onde estava a fazer as medições. Hoyland crê que os dados recolhidos por Somervell deixam perceber uma queda de 10 milibares na pressão atmosférica – uma descida de 4 milibares basta para provocar hipóxia (falta de oxigénio no cérebro).
George e Andrew terão, então, sido apanhados no meio de uma tempestade-bomba, que precipita as temperaturas para valores muito inferiores e gera ventos de mais de 180 km/hora. “Um tipo que conheço foi pelos ares e aterrou mais acima na montanha”, recorda Hoyland, em declarações à CNN. Dos dados da expedição consta que uma tempestade atingiu a montanha por volta das duas da tarde, o que seria muito antes de os dois terem tido tempo de chegar ao topo.
O investigador, o primeiro a analisar com detalhes os dados meteorológicos da expedição, arquivados na Royal Geographical Society, em Londres, não acredita, por isso, apesar do desejo em contrário, que o par tenha chegado ao pico e morrido já na descida, como se chegou a especular. Um dos argumentos para esta teoria é o facto de a fotografia da mulher que Mallory tencionava deixar no cume não ter sido encontrada nos bolsos.
Mas Hoyland não acredita que possa ter sido este o caso e está convicto de que os dois escorregaram e caíram no regresso à base.
Na última carta dirigida à mulher, Mallory descreveu estar a “olhar pela porta de uma tenda para um mundo de neve e esperanças que se desfazem”, relatando também o “mau bocado” por que ele e Irvine estavam a passar. “Tenho muitas dúvidas de que esteja em condições” de chegar ao cimo, escreveu.