Ana Jorge classifica de “rude, sobranceira e caluniosa” a forma como o Governo de Luís Montenegro anunciou a sua saída do cargo de provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML).
Numa carta enviada aos trabalhadores daquela instituição, a antiga ministra da Saúde (do Governo de José Sócrates) admite que foi “com surpresa” que teve conhecimento da decisão da exoneração, sublinhando que “foi uma honra” servir a SCML.
A ex-provedora da Santa Casa assume que “foram 11 meses muito duros”, e defendeu a atuação da sua equipa, que, garante, trabalhou “rumo à sustentabilidade financeira, à motivação dos colaboradores” e em prol do compromisso social assumido com “milhares de pessoas”. “É por isso – pelo tanto trabalho, desenvolvido em tão pouco tempo e pelo plano de reestruturação sólido que desenhámos e que queríamos implementar – que hoje não me sinto tão triste. Por isto, só por isto”, escreve.
Na hora da saída, Ana Jorge não foi meiga nas palavras, respondendo a quem a afastou do cargo: “O comunicado emitido pelo Ministério do Trabalho é, pela forma rude, sobranceira e caluniosa com que justifica a minha exoneração, motivo para me sentir desiludida”, lê-se na carta.
Recorde- se que o Governo publicou, esta terça-feira, em Diário da República, o despacho de exoneração da mesa da SCML. No documento, assinado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro e pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Ramalho, o Governo justifica o afastamento da ex-provedora e dos elementos da mesa com “atuações gravemente negligentes que afetam a gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”, inclusive “a ausência de um plano de reestruturação financeira, tendo em conta o desequilíbrio de contas entre a estrutura corrente e de capital desde que tomou posse até agora”.
Ana Jorge tomou posse a 2 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo de António Costa. A SCML atravessa graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo polémico de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que pode ter custado à instituição 50 milhões de euros.