“Aposte de forma responsável” é o conselho dado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) aos jogadores, que todos os anos gastam milhões de euros nos jogos sociais, desde a simples Raspadinha ao encorpado Euromilhões. Há quatro anos, quando as receitas começaram a cair, foi a instituição que decidiu apostar, sobretudo no Brasil, mas não terá sido de forma mais responsável, já que o prejuízo poderá superar os 50 milhões de euros. Centenas de documentos a que a VISÃO teve acesso revelam como a mesa da SCML aprovou, nos últimos anos, diversos financiamentos, o papel de uma amiga da ministra Ana Mendes Godinho, promovida a vice-provedora, e a ligação a um advogado português radicado no Brasil, que chegou a ser investigado na Operação Marquês. A atual direção da Santa Casa adiantou à VISÃO que vai avançar com pedidos de indemnização. Mas um dos gestores afastados já se antecipou.
O périplo internacional da SCML iniciou-se em 2019. Ainda com Vieira da Silva como ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, o então provedor, Edmundo Martinho, apresentou, por ofício de 22 de outubro, à tutela um projeto de “internacionalização da atividade de exploração do jogo”, identificando os mercados angolano e brasileiro como principais alvos. Esta opção surgiu no âmbito de um extenso grupo de trabalho interno – designado por Projeto 5.30 – encarregue de pensar e perspetivar a sustentabilidade financeira da SCML a dez e a 20 anos.