A mensagem surge em inglês ou em português, de um número estrangeiro, começa com uma apresentação e depois uma pergunta.
“Olá. O meu nome é (…) e sou da empresa (…). Estou a contactar porque recebemos a sua candidatura à vaga de emprego na nossa empresa. Ainda estás interessado?”
Se não houver resposta, pode ficar por aí, mas há ainda quem recebe propostas mais completas, como ter um cargo remoto com um salário muito superior à médica nacional, ou assistir a vídeos no Youtube um número de vezes por dia em troca de 100 euros ou mais pagos diariamente. É uma tarefa fácil, aparentemente bem recompensada, que pode aliciar algumas pessoas. Contudo, tudo isto não passa de uma fraude que opera a nível global.
A pessoa que responde acredita que vai ser recompensada por tarefas fáceis de executar, sendo que, do outro lado, o suposto recrutador envolve a pessoa num alegado investimento que apresenta como muito atrativo. O discurso não é personalizado e parece ser copiado de um guião, muitas vezes numa linguagem que apresenta alguns erros, em especial se estiver escrita em português.
O alegado recrutador pede para que seja instalada uma aplicação no telemóvel ou computador para a execução das tais tarefas, que podem ir de ver um vídeo, a colocar “gostos” em publicações ou clicar em publicidade, recebendo um valor por cada missão cumprida. A reviravolta acontece quando a vítima percebe que precisa de fazer um upgrade à sua conta nestas aplicações para não ficar limitada a um número máximo (e muito baixo) destas tarefas.
A vítima acaba por ser induzida a introduzir dados pessoas em plataformas duvidosas, fornecendo, por exemplo, o número de um cartão de crédito para pagar o tal upgrade. Esta plataforma rouba os dados e clona o cartão, permitindo que sejam transferidos valores para os criminosos. Também há o caso de a vítima ser convencida a fazer cada vez mais investimentos na esperança de obter retornos superiores (que nunca chegarão).
Keith Rosser, diretor da empresa de recrutamento da Reed, do Reino Unido, explicou ao site Euronews Next que este esquema começou a operar em novembro de 2022, tendo crescido de forma exponencial a partir de março de 2023. “Todos os dias recebemos dezenas de denúncias, muitas delas de fraudes enviadas pelo WhatsApp em nome de empresas de recrutamento legítimas ou de sites de emprego”, explica, referindo ainda acreditar que apenas 5% das vítimas fazem queixa da situação, o que deixa adivinhar que todos os dias milhares de pessoas, só naquele país, sejam aliciadas com as propostas fraudulentas. “Ao perceber que há tantas pessoas a falarem sobre isto, sinto que se trata de um esquema gigante e que estamos apenas a ver a ponta do icebergue”.
“Quando a esmola é muita…”
Se receber uma mensagem com uma proposta de trabalho generosa, desconfie. Os recrutadores não fazem propostas através do WhatsApp, muito menos a quem nem sequer está à procura de emprego. O risco está entre aqueles que efetivamente estão à procura de um novo trabalho. Caso esteja a enviar CVs, tenha cuidado com as abordagens que recebe e confie apenas em contactos que fornecem mais informações e que convidam para uma entrevista. Em momento algum forneça dados pessoais ou dados dos seus cartões de crédito.
Reportar estas mensagens às autoridades é um caminho para acabar com este esquema, uma vez que ajuda a perceber de que forma o crime atua.
