Os polícias da PSP e os guardas da GNR ameaçam avançar com a entrega em massa das armas de serviço, na próxima quarta-feira, dia 7 (a partir das 22h), dia em que se assinala um mês desde o início do protesto (então) solitário do polícia Pedro Costa. A promoção deste protesto, promovido pelo movimento anónimo INOP – que ficou associado a uma ação que deu como “inoperacionais” vários carros-patrulha da PSP –, corre veloz nas redes sociais, e tem sido anunciado nos canais do Movimento Zero, na plataforma Telegram.
A ação surge depois de, já hoje, Pedro Costa, o agente da PSP que, no dia 7 de janeiro, iniciou uma vigília diante das escadarias da Assembleia da República – dando início à onda de protestos que tem juntado milhares de colegas das forças de segurança de todo o País –, ter anunciado que “irá voluntariamente entregar a arma de fogo”, nas instalações policiais em que presta serviço, até ter a “valorização” e o “reconhecimento” que exige pelo Estado português. O polícia de 32 anos promete repetir este protesto “diariamente” até que “a situação esteja resolvida”.

“Eu, primeira pessoa do singular, por não me sentir valorizado nem reconhecido pelo Estado, e por este não me dar condições a nível remuneratório enquanto polícia, irei entregar a arma de serviço que me foi distribuída nas instalações policiais em que presta serviço, permanecendo sentado na esquadra até ao final do turno. Até essa valorização e reconhecimento não acontecer irei repetir estas ações todos os dias”, diz Pedro Costa, num vídeo publicado no Telegram.
O movimento anónimo INOP pegou na “sugestão” e decidiu alargar esta ação, desafiando todos os polícias e guardas a imitarem o gesto, na próxima quarta-feira, dia 7. De acordo com as instruções deste grupo anónimo, os elementos das forças de segurança devem entregar as armas de fogo ao graduado de serviço às 22h, hora a partir da qual deverá ter início uma vigília à porta das respetivas esquadras, postos ou unidades.
Polícias mantêm-se em luta
Recorde-se que a revolta na polícia escalou, em dezembro passado, após a aprovação, pelo Governo, do pagamento de um suplemento de missão, no valor de cerca de 700 euros, aos inspetores da Polícia Judiciária (PJ). Os sindicatos da PSP e da GNR dizem que estas forças de segurança estão a ser “desconsideradas pelo Governo” e afirmam que a decisão foi a “machadada final”.
Os protestos começaram no início deste mês, quando Pedro Costa, agente da Divisão de Segurança Aeroportuária da PSP, resolveu iniciar uma vigília solitária às portas da Assembleia da República. Polícia há cinco anos, Pedro Costa tem permanecido naquele local, insistindo que a ação de protesto decorre “24 horas [por dia], sem data ou hora para terminar”. Dorme numa carrinha estacionada em São Bento.
Centenas de polícias têm passado, diariamente, pelo local, para prestarem apoio ao colega, juntando-se (silenciosamente) à ação. Nas últimas duas semanas, grupos de polícias têm marcado presença nas bancadas de eventos desportivos, um pouco por todo o país, onde se têm feito notar entoando o hino nacional.
Na quarta-feira, a plataforma sindical de polícias organizou uma manifestação de polícias, que classificou como “histórica”. Os sindicatos garantem que terão participado 15 mil pessoas. Ontem, o protesto repetiu-se no Porto, com aquela que está a ser considerada a maior manifestação de sempre de polícias em Portugal, com a presença de 20 mil pessoas nas ruas da cidade Invicta.
Contra os sindicatos, marchar…
A plataforma de sindicatos continua, entretanto, a reunir com os partidos políticos, mas os polícias em protesto parecem não reconhecer nesta estrutura legitimidade e capacidade para encontrar respostas para as reivindicações das forças de segurança.
No mesmo vídeo, hoje publicado, o agente Pedro Costa alerta os políticos “[que] aqueles que nos representam querem somente um suplemento de missão, [mas] não é isso que os polícias querem”. “Esqueçam fazer algum acordo com aqueles senhores porque isso não irá a lado nenhum. Foram vocês que causaram o problema (…) e vão ter de ser vocês a resolver o problema”, afirma, sem, no entanto, clarificar o que quer dizer.
O protesto das forças de segurança parece estar para durar.