A meio da viagem, Olívia, 39 anos, apercebeu-se que o motorista se preparava para atravessar a Ponte 25 de Abril, quando o destino que teclou na aplicação “Bolt” era Amadora. Com a filha bebé ao colo, terá entrado em pânico e alertado o condutor para o engano, porém, ao volante, Ifran, cidadão paquistanês não entendeu uma palavra. Para piorar a situação, a sua cliente não falava inglês.
A situação, que decorreu na tarde de 10 de agosto de 2023, acabaria por escalar rapidamente: a mulher procurava explicações, a bebé começava a chorar. Ao mesmo tempo, Ifran dava à bebé 40 cêntimos, “causando-lhe bastante medo, pois não sabia as suas verdadeiras intenções”, relatou à PSP, que elaborou o competente auto de notícia.
Durante a viagem, a mulher telefonou ao seu cunhado, Lito, que rapidamente foi ao seu encontro, conseguindo interceptar a viatura no acesso da A2 para o edifício da Via Verde, contactando, entretanto, a PSP.
A Polícia Judiciária acabaria por tomar conta da investigação, chegando à conclusão que tudo não passou de má comunicação entre condutor e passageira. Ouvido como arguido, acompanhado do seu advogado, Pedro Pestana, Irfan explicou que, após ter recolhido Olívia na Avenida Almirante Reis, em Lisboa, colocou-se a caminho do destino que a aplicação transferiu para o “Waze”.
Porém, pouco tempo após ter arrancado, o “Waze” informou-o da existência de um grande acidente no trajeto, indicando-lhe uma alternativa. Foi aí que tudo se complicou, tendo entrado na A5 (Lisboa/Cascais), saindo para a Ponte 25 de Abril. Motivo? “Percebeu que chegaria a uma rotunda após passar a Ponte 25 de Abril no intuito de voltar novamente para o sentido de Lisboa”, relatou à Polícia Judiciária.
E acrescentou: “Questionado se sabe onde fica a Amadora, respondeu negativamente”, lê-se ainda no auto de interrogatório de arguido.
Quanto aos 40 cêntimos, “explicou que ofereceu a fim de comprar um chocolate à criança, porque não parava de chorar”, garantindo nunca ter tido “intenção de assustar” a cliente, “tendo-se limitado a enganar-se na interpretação do caminho a seguir pelo ‘Waze?”.
A Polícia Judiciária ainda efetuou uma inspeção à viatura do suspeito, sobretudo à procura de dispositivos difusores, que pudessem ter sido utilizados para provocar sonolência nos passageiros. Nada foi encontrado.
“Compulsados os autos, resulta de todas as diligências efetuadas a noção de que estamos perante um simples erro de interpretação da aplicação de navegação. O facto de o condutor não conseguir falar português, bem como a circunstância de a vítima ser desconhecedora da língua inglesa, enviesou toda e qualquer possibilidade de esclarecimento”, concluiu a Judiciária.
E a procuradora Conceição Copeto do Departamento de Investigação e Acção Penal de Almada concordou. “Sem mais delongas(…) determina-se o arquivamento dos autos”.