Os sistemas alimentares, especialmente os produtos de origem animal, representam um terço das emissões globais de gases com efeito de estufa – nomeadamente, o metano e o amoníaco resultantes da pecuária, que contribuem para a poluição atmosférica através da formação de partículas e de ozono troposférico. Se não forem controladas, estas emissões provavelmente acrescentariam, por si só, mais de 1,5ºC à temperatura média da Terra, até 2060. Em reação com outros poluentes, podem ainda causar problemas de saúde como doenças cardiovasculares, cancro do pulmão e diabetes.
Um estudo recente, liderado por Marco Springmann, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e publicado na revista Nature, revela que a mudança das dietas atuais para dietas mais saudáveis e baseadas em vegetais poderia prevenir até 236.000 mortes prematuras em todo o mundo – simplesmente pela melhoria da qualidade do ar. “De acordo com a Organização Mundial de Saúde, ocorreram 4 milhões de mortes prematuras relacionadas com a poluição atmosférica exterior em 2019. A agricultura é responsável por cerca de um quinto destas mortes”, indica Springman, num artigo escrito no The Conversation.
Os investigadores analisaram o que aconteceria à qualidade do ar se as pessoas em todo o mundo adotassem dietas flexitarianas (com aumento do consumo de vegetais e redução, ao mínimo, da ingestão de carne), dietas vegetarianas ou dietas veganas sem produtos de origem animal. Nas áreas com muita pecuária, isso levaria a reduções significativas na concentração de partículas finas. “Utilizando modelos de sistemas, estimamos reduções na mortalidade prematura de 108.000-236.000 (3-6%) globalmente, incluindo 20.000-44.000 (9-21%) na Europa, 14.000-21.000 (12-18%) na América do Norte e 49.000 -121.000 (4-10%) na Ásia Oriental”, referem as conclusões do estudo. Neste caso, os ganhos para a saúde decorrentes de um ar mais limpo somam-se aos benefícios obtidos com uma dieta mais equilibrada.
Além disso, a melhoria da qualidade do ar pode impulsionar o PIB global. Já existiam estudos a indicar que a poluição do ar reduz a produtividade dos trabalhadores em diferentes empregos, desde explorações agrícolas a fábricas. A equipa da Universidade de Oxford estima que esta melhoria do ar poderia aumentar a produção económica em 0,6-1,3 mil milhões de dólares (0,5-1,1%).
Segundo Marco Springmann, “adotar dietas mais baseadas em vegetais é uma estratégia eficaz em termos de custos para combater as emissões. Mas também reduz a necessidade de investimentos dispendiosos em equipamentos de redução de emissões para sistemas pecuários.”
Há, assim, uma ampla gama de benefícios decorrentes da adoção de um regime alimentar mais saudável, sendo esta “uma estratégia de mitigação valiosa para reduzir a poluição do ar ambiente e os impactos económicos e de saúde associados, especialmente em regiões com agricultura intensiva e elevada densidade populacional”. Uma medida ao alcance de todos.