Raul Neto não larga o telemóvel por um segundo. Aos 33 anos, este brasileiro usa o objeto como ferramenta de trabalho, depois de se ter tornado popular nas redes sociais, através do projeto Brasileiros em Portugal, que pretende ajudar compatriotas recém-chegados ao País e promove novos negócios da comunidade brasileira. O objetivo é que outros não repitam os erros que o próprio influencer um dia cometeu: chegado jovem a Portugal, em 2012, vindo de Minas Gerais, Raul Neto viu o seu sonho europeu dissipar-se em apenas quatro meses. Sem dinheiro sequer para regressar a casa, aceitou o convite de dois desconhecidos para assaltar um banco em Lisboa. Acabou preso e deportado, ficando proibido de reentrar na Europa durante cinco anos. “Esse foi o maior erro que cometi na vida, mas aprendi a lição”, garante.
Hoje, esse passado continua a persegui-lo. Raul Neto tornou-se um dos principais alvos da onda de ódio contra brasileiros a viver em Portugal, promovida nas redes sociais por pessoas e grupos organizados anti-imigração. Ao mesmo tempo, multiplicam-se os relatos de episódios de xenofobia. “São-me dirigidas, diariamente, mensagens com insultos e ameaças. Mas, através do meu projeto, muitos compatriotas me relatam as suas próprias experiências… Dizem-nos: ‘Vai para a tua terra!’ São tantos casos que, confesso, já não me sinto totalmente seguro a viver em Portugal”, conta Raul Neto.

Xenofobia na pele
Fabrícia Diogo
Chegou a Portugal há uma década. Hoje, com 33 anos, esta médica dentista continua a sentir-se “olhada de lado” por colegas e clientes. Recorda-se do dia em que uma cliente portuguesa se recusou a ser atendida pela “dentista brasileira”.
Raul Neto
Emigrou para Portugal em 2012, mas, ainda nesse ano, assaltaria um banco em Lisboa. Preso e deportado, regressaria “mudado” em 2017. Hoje, com 33 anos, reside na Costa da Caparica e é influencer nas redes sociais, com milhares de seguidores. Recebe, diariamente, centenas de insultos e ameaças online.
Priscila Araújo
Vive apenas há um ano e sete meses em Portugal (Oeiras). Trabalha num solário, e já lhe disseram que o trabalho que faz “é para mulheres brasileiras, que não prestam”.
