“Como é que eu te posso fazer feliz?”, provavelmente já se cruzou com esta frase num dos vídeos de “Lucas with Strangers”. O jovem português, de 23 anos, tornou-se viral nas redes sociais ao ajudar estranhos que encontra na rua. Entre pequenos gestos – como flores ou um abraço – a grandes pedidos – como viagens ou ajudar a encontrar casa a pessoas sem abrigo – de “estranho” em “estranho”, Lucas já mudou a vida de muitas pessoas.
O projeto, com início em 2021, começou por ser um desafio de “superação pessoal” para o ajudar a enfrentar os medos e ansiedades que sentia quando saia à rua e que nasceram após um episódio traumático da sua vida. Em 2020, foi sequestrado e assaltado enquanto acampava. O trauma acabou por condicionar a sua vida e fazer com que Lucas desenvolvesse PTSD – Perturbação de Stress Pós-Traumático –, condição que o impediu de sair de casa e, mais tarde, até do próprio quarto. “Na altura estava a seguir gestão, tinha desistido da faculdade, tinha aberto a minha pequena empresa e estava a correr tudo muito bem. O meu projeto de vida era esse [a minha empresa] e ia por um caminho completamente diferente. Era a minha previsão para o futuro, que mudou completamente a partir de uma coisa imprevisível e um azar que acabou por se tornar numa sorte”, afirma.
Desafiado por uma amiga, inicialmente a sua página – criada na plataforma Instagram – chamava-se “Selfies with Strangers”, e o Lucas tinha apenas o intuito de tirar fotografias com estranhos que encontrasse na rua. Mas a página não durou muito tempo, e Lucas foi à procura de algo mais desafiante. Foi a partir daí que decidiu “migrar” para a plataforma TikTok e começar a gravar pequenos vídeos em que abordava as pessoas na rua, com propostas que incluíam abraços, elogios e até desafios onde o “estranho” era encorajado a ligar a alguém que gostasse e confessar-lhe o seu amor. Nas suas palavras, o projeto inicialmente era “100% strangers”.
Mais tarde, veio a pergunta que se tornou uma das suas imagens de marca “Como te posso fazer feliz?”, juntamente com os milhares de seguidores no TikTok. A frase que lançou o seu projeto teve início num vídeo semelhante aos anteriores de Lucas, intitulado “Fazer estranhos felizes”. Ao perguntar a um estranho o que o faria feliz, a pessoa respondeu “Dá-me 10 euros”. Lucas realizou o seu desejo e a pergunta passou a ser recorrente nos seus vídeos. “Comecei o projeto há basicamente dois anos atrás e estava a dar 30 euros e passar de dar 30 euros em dois anos para estar a dar agora 25 mil, quase 30 mil, é mil vezes mais. É um processo de crescimento tão rápido que é difícil para mim valorizar e olho sempre para as histórias atrás como ‘foi fixe, mas isso nem foi nada comparado com o que é agora'”, esclarece.
Criar uma comunidade e desconstruir preconceitos
Recentemente nomeado para um globo de ouro na categoria de Personalidade do Ano no Digital, o projeto de Lucas tem crescido imenso nos últimos anos, com mais de 2 milhões de seguidores nas suas plataformas. No entanto, à medida que a sua plataforma foi crescendo, também os pedidos de ajuda tomaram outras proporções. Com a ajuda de patrocinadores e dos seus seguidores, o projeto foca-se agora em fazer a diferença na vida das pessoas que acredita serem as mais vulneráveis. Através de um formulário que lança nas suas redes, são vários os pedidos de ajuda que lhe chegam, e Lucas dá prioridade a pedidos de ajuda para outras pessoas. “Eu tendo mesmo a dar prioridade a pessoas que se preocupam com os outros e que vêm problemas na comunidade e querem resolver porque acho que também é uma parte bonita do projeto, as pessoas que estão lá querem ajudar. É uma comunidade altruísta, que está lá para os outros e ouvir as histórias que as pessoas têm para contar e querem ajudar, mas não têm possibilidades e usa-me para criar uma ponte entre o caso e os meus seguidores é muito fixe”, acredita.
O projeto de Lucas pretende marcar pela generosidade e empatia através das redes sociais e, através da partilha dos seus vídeos, inspirar outros a fazerem o mesmo. Através das suas redes, qualquer pessoa pode ajudar, com qualquer quantia, os casos que vão chegando às mãos de Lucas e, depois, ver onde é que o seu contributo foi aplicado. “Eu gosto de pensar que estou a fazer essa diferença. E acho que não estou a mudar o espírito [das pessoas] porque acho que já tinham isso de ajudar e, se calhar, só nunca tinham era uma solução boa para o fazer, então fico contente de confiarem em mim para isso para fazer essa ponte”, explica.
A sua missão é, sobretudo, desconstruir preconceitos como os que afetam os mais idosos ou pessoas em situação de sem abrigo. “Havia uma fase em que eu estava a fazer [vídeos] com muita gente sem abrigo e há muito preconceito em relação a essas pessoas e podem nem ser preconceitos no sentido negativo, mas é ter muita pena deles. Mas esse sentimento de pena muitas vezes nem é a melhor coisa, porque são pessoas exatamente como nós e que muitas vezes não querem ser vistas com pena querem ser vistas como iguais”, refere.
O Caso do senhor Jorge
O crescimento do projeto online deu a Lucas a oportunidade de chegar também aos mais idosos. “Acho que são um grupo altamente vulnerável na sociedade. Chegando a uma certa idade fica mais difícil solucionar problemas da vida, ou quase impossível em alguns casos, e então acho que também é um bom sítio para estar e agir”, explica.
Recentemente, Lucas envolveu-se na história de Jorge, um senhor de 73 anos, vítima de violência doméstica e diagnosticado com cancro. Com uma história de vida complicada, o caso de Jorge chegou a Lucas através dos seus vizinhos. Através de uma angariação de fundos que partilhou nas suas redes sociais, Lucas arrecadou 19 mil euros – aos quais juntou ainda dinheiro do próprio bolso – perfazendo um total de 20 mil euros. Dinheiro suficiente para liquidar as dívidas de Jorge e ainda pagar-lhe uns meses de renda. Até agora, este foi o valor mais alto arrecadado pelo seu projeto.
O “futuro”
A viver das redes sociais, Lucas dedica-se exclusivamente ao projeto, procurando, de pessoa em pessoa, ajudar cada vez mais “estranhos”. Para o ajudar, conta alguns patrocínios e parcerias de marcas que diz perceberem a “mensagem do projeto”. Para o futuro, Lucas não faz planos, até porque não gosta de “pensar no amanhã”. “Eu não gosto muito de pensar no futuro. É muito longe, tenho muita coisa para pensar e eu acho que prever a vida é um bocadinho inútil. Acho que a melhor parte da vida, a parte mais bonita, é o futuro ser uma incógnita e então vou deixá-lo uma incógnita, não vou tentar moldá-lo”, explica.