Foi em meados do século XX que Raimondo Bucher, tenete da Força Aérea Italiana, garantiu que conseguiria mergulhar livremente 30 metros e voltar à superfície sem que os seus pulmões entrassem em colapso, e de uma maneira tranquila.
E conseguiu mesmo: o feito aconteceu em 1949, na baía de Siracusa, em Itália e, três anos depois, Bucher bateu o seu recorde, ao atingir os 39 metros de profundidade.
Em 1962, uma investigação realizada por Per Scholander descobriu que, principalmente a certas temperaturas, a água provoca uma diminuição imediata na frequência cardíaca. Mas o que é que isto pode ter a ver com a ansiedade?
Os humanos estão programados para a autopreservação através do sistema nervoso, que quando “percebe” que estamos a enfrentar um perigo, entra em ação para nos ajudar a sobreviver.
Quando temos uma crise de ansiedade, o nosso corpo reage de várias formas, mas há especialistas que acreditam que ativar o reflexo de mergulho pode ajudar a reduzir essa ansiedade em apenas 30 segundos.
O que é o reflexo de mergulho?
No geral, as pessoas que sofrem de ansiedade podem sentir regularmente inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbações no sono. Além disso, é comum sentirem palpitações, falta de ar e taquicardia e a temperatura corporal pode subir.
Quando há crises de ansiedade, toda a energia acumulada “desce” da cabeça para o corpo, ativando o sistema nervoso simpático, o responsável pelas respostas ao stress.
Por outro lado, o sistema nervoso parassimpático estimula ações que permitem ao organismo responder a situações de calma, como a saciedade, o repouso e a digestão, por exemplo, tais como a a desaceleração do batimento cardíaco ou a diminuição da pressão arterial.
Uma investigação realizada em 2015 descobriu que o reflexo do mergulho, a reação do organismo ao passar pelo processo de imersão e que tem como objetivo ativar o sistema nervoso parassimpático de maneira rápida, aliviando emoções intensas, ocorre a partir de sinais enviados pelo nervo trigémeo, que controla, principalmente, a musculatura da mastigação e a sensibilidade facial.
A equipa explica que, quando a água fria atinge o rosto, logo abaixo dos olhos e acima das maçãs do rosto, é enviada uma mensagem ao nervo vago, o mais longo do corpo humano, que controla o sistema nervoso parassimpático, regulando funções corporais involuntárias, tais como a respiração e o ritmo cardíaco.
Isto vai permitir reduzir os sintomas de ansiedade, dizem os especialistas.
Técnicas que pode experimentar com água gelada para diminuir a ansiedade e o stress
De acordo com o Psychology Today, ativar o reflexo de mergulho pode ser uma “maneira infalível” de reiniciar a atividade do sistema nervoso, que em momentos de stress está hiperativo. E isto pode ser feito sem precisar de realizar mergulho livre.
Existem diferentes técnicas com água muito fria ou água gelada que podem ajudar a reduzir a ansiedade e o stress:
- Por exemplo, encha uma tigela grande ou bacia com água gelada e, enquanto sustém a respiração, mergulhe o rosto durante 30 segundos. Pode fazê-lo ao longo de menos tempo, se não se sentir confortável com os 30 segundos;
- Quando estiver a tomar banho, pode optar por terminá-lo com água fria nos últimos 30 segundos, ou colocar apenas o rosto em água fria no momento final do banho;
- Pode, também, colocar alguns cubos de gelo em sacos com fecho – ou até pegar num saco de vegetais congelados – e pressioná-lo contra o rosto, cobrindo os olhos e acima das maçãs do rosto, enquanto sustém a respiração entre 6 e 8 segundos.
É importante não realizar qualquer uma das técnicas caso tenha histórico de condições cardíacas, já que o objetivo é diminuir a frequência cardíaca.
