Os distúrbios de ansiedade são a doença psiquiátrica mais comum em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2019, 301 milhões de pessoas viviam com um transtorno de ansiedade, incluindo 58 milhões de crianças e adolescentes.
“Para começar, toda a gente tem ansiedade”, descansa o psiquiatra e diretor clínico do PIN Lisboa, Gustavo Jesus. E explica: “Ao longo das centenas de milhares de anos da espécie humana, a ansiedade ajudou-nos a sobreviver”. Ou seja, no fundo, a ansiedade é nada mais nada menos que “uma resposta complexa, física e psicológica, que todos nós temos para fugir ao perigo”.
Durante esta resposta, o que acontece é que o corpo prepara-se para fugir ou lutar. Por esta razão, ficamos extremamente focados, o coração acelera para que o sangue chegue mais depressa a todo o corpo, e a respiração fica ofegante, para trazer mais oxigénio ao sangue, que o levará ao cérebro e aos músculos, caso necessitemos de fugir.
Ainda que seja normal reagir desta forma perante algo que consideramos perigoso, esta reação passa a ser considerada patológica quando se torna “demasiado intensa, demasiado duradoura ou desproporcional em relação aquilo que a causou”, explica Gustavo Jesus.
A fim de perceber o que se passa exatamente no cérebro das pessoas que têm este tipo de reações desproporcionadas, uma equipa liderada por investigadores das Universidades de Bristol e de Exeter, no Reino Unido, manteve ratinhos de laboratório fechados durante seis horas, como forma de induzir uma resposta de stresse, e depois analisou o cérebro dos animais a nível molecular.
Sob stress, o microRNA miR-483-5p reprime diretamente um dos genes associados ao stresse
Os investigadores descobriram na amígdala dos ratinhos, a região do cérebro implicada na ansiedade, níveis aumentados de cinco microRNAs (miRNAs), pequenas moléculas que ajudam a determinar quais os genes de uma célula que são expressos e quais não.
O que os autores do estudo se aperceberam depois foi que um desses microRNAs que estavam aumentados, o miR-483-5p, contrabalançava “as consequências estruturais, funcionais e comportamentais do stresse, promovendo uma redução no comportamento semelhante à ansiedade”.
Ou seja, sob stress, esta pequena molécula reprime diretamente um dos genes associados ao stresse, o Pgap2, proporcionando alívio do mesmo e reduzindo comportamentos relacionados com a ansiedade.
A esperança para o futuro é que as descobertas que foram feitas no cérebro dos ratinhos sejam confirmadas também em cérebros humanos. Caso tal se verifique, a capacidade de “bloquear” naturalmente um gene da ansiedade poderá representar um modelo para novos tratamentos.
A importância deste facto prende-se, por exemplo, com o facto de os ansiolíticos existentes atualmente serem soluções que tratam apenas os sintomas e, a longo prazo, podem causar dependência e habituação.