Joana Sá quer ouvir mais gente a dizer “não sei”. A investigadora do LIP (Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partícula) vê um espaço público cheio de pessoas com um nível de confiança desajustado ao do seu conhecimento. Mas não são apenas os comentadores de televisão. Um estudo que acabou de publicar na Nature Human Behaviour conclui que é entre quem sabe alguma coisa (não muito) que se observam os maiores níveis de excesso de confiança face ao conhecimento. São mais homens, entre 35 e 45 anos, com escolaridade secundária e até superior. Um perfil não muito diferente dos eleitores do Chega. A VISÃO entrevistou-a sobre essas conclusões e sobre uma reflexão desconfortável: será que o esforço de cientistas e jornalistas para simplificarem a informação está a prejudicar a comunicação sobre Ciência?
O que a vossa investigação traz de novo?
A metodologia e os resultados. A grande diferença é a nossa métrica de confiança. Normalmente essas métricas são autorreportadas, perguntando às pessoas quanto sabem sobre determinado assunto. Nós queríamos uma métrica que fosse indireta e um sistema que nos permitisse olhar para toda a diversidade da população. Lembrámo-nos de usar qualquer inquérito com perguntas do género “verdadeiro”, “falso” e “não sei”. Estamos a falar de coisas em que existe completo consenso científico, do tipo a Terra girar à volta do Sol. O nosso racional foi muito simples: se as pessoas sabem, vão dar a resposta perfeita, se não sabem, vão dizer “não sei”. De cada vez que as pessoas respondem de forma errada, é porque pensam que sabem, quando na verdade não sabem. E isso pode ser uma forma de inferir confiança, ou excesso de confiança. O rácio entre os “não sei” e as respostas erradas é uma das inovações e podemos aplicá-la a qualquer inquérito. Temos uma amostra enorme, com perto de 90 mil inquéritos ao longo de 30 anos.