Um novo estudo, desenvolvido por uma equipa de neurobiólogos do Instituto de Fisiologia da Universidade de Kiel, na Alemanha, e da Universidade da Copenhaga, Dinamarca, concluiu que as medusas das Caraíbas, as Tripedalia Cystophora, têm a capacidade de aprender rapidamente e reter informações, mesmo não tendo cérebro.
A equipa sugere que estes animais realizam um processo denominado aprendizagem associativa, em que os seres vivos estabelecem uma associação entre dois ou mais eventos.
“As medusas podem realmente aprender com os seus erros e modificar o seu comportamento”, explica à New Scientist o líder do estudo, Anders Garm, professor de biologia marinha na Universidade de Copenhaga, na Dinamarca.
“Mesmo o sistema nervoso mais simples parece capaz de aprendizagem avançada, sugerindo que esta capacidade pode ser um mecanismo celular fundamental presente desde o início da evolução do sistema nervoso”, refere ainda.
A equipa, que estuda estes animais há vários anos, não ficou surpreendida ao descobrir que têm capacidades de aprendizagem, mas “foi uma surpresa a rapidez com que aprenderam”.
Simulações de habitat natural
Numa das experiências, os investigadores observaram medusas das Caraíbas treinadas num tanque que foi criado para simular o seu habitat natural.
Os animais começaram a chocar com aquilo que lhes parecia raízes de mangue artificiais, já que tinham revestido o interior do tanque com riscas cinzentas e brancas que criaram esse efeito.
A equipa percebeu que, depois de 7, 5 minutos, as medusas tinham adaptado o seu comportamento para conseguirem evitar os obstáculos, conseguindo aumentar distância em relação aos mesmos em cerca de 50%, ou seja, o contacto com as paredes do tanque reduziu para metade. Os resultados começaram a observar-se cinco minutos depois do início da experiência, explica a equipa.
Os investigadores também deram conta de que o número de mudanças de direção bem-sucedidas com o objetivo de evitar colisões quadruplicou depois deste tempo de aprendizagem.
Esta descoberta, que faz parte de uma investigação a decorrer atualmente sobre o comportamento das medusas, contraria uma ideia instituída de que os organismos não conseguem aprender sem um sistema nervoso central e sugere que “a aprendizagem avançada pode ter sido uma vantagem evolutiva dos sistemas nervosos”.
“Isto é uma grande novidade para a neurociência fundamental“, refere ainda Garm.
“As descobertas também podem ser evidência de alguma memória de curto prazo”, diz, por seu lado, à CNN, Michael Abrams, investigador no departamento de biologia molecular e celular da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que não esteve envolvido no estudo, publicado na revista Current Biology.