Sonnie Flores, investigadora de crocodilos na Universidade de Sunshine Coast, na Austrália, está no centro da investigação, juntamente com os seus colegas, para criar o primeiro dicionário de crocodilos do mundo.
A ideia é conseguir decifrar e catalogar todas as formas diferentes de comunicação dos crocodilos e desvendar os significados dos “grunhidos”, “rosnados” e “rugidos”.
Mas também existem formas não vocais de “falar” como as pancadas de cabeça na água, o géiser nasal (quando um crocodilo mergulha o nariz debaixo de água e expele água para o ar pelas narinas) e as vibrações corporais.
“Os crocodilos fazem uma coisa espantosa: bombeiam cada um dos pequenos osteodermos – as pequenas escamas nas suas costas – como um pistão. Isso cria uma frequência muito baixa que viaja muito longe na água. Por isso, sabemos que eles fazem esta incrível seleção de sons”, explicou a investigadora Sonnie Flores ao canal norte-americano ABC News.
Os crocodilos e os jacarés, à semelhança de todos os répteis, não possuem laringe e as suas cordas vocais são muito elementares.
Mas apesar dos músculos pulmonares destes répteis não conseguirem regular as vibrações das suas cordas vocais, os crocodilos e os jacarés são os mamíferos mais vocais de todas as espécies.
Sonnie Flores conseguiu identificar 13 categorias de sons de crocodilos através de gravações e vídeos dos crocodilos do Jardim Zoológico de Austrália, de crocodilos selvagens no rio Daintree e na península de Cape York, no estado de Queensland, no norte da Austrália.
“Na ficção popular, as pessoas podem falar com os animais a toda a hora. Mas nós não achamos que seja assim tão fácil”, disse Dominique Potvin, um ecologista comportamental e acústico envolvido na criação do dicionário de crocodilos, em entrevista ao jornal The New York Times. “O pressuposto dos crocodilos sempre foi o de que não têm muito a dizer para além do que pode ser um aviso para nós”, acrescentou.
Mas aprofundar o conhecimento acerca da forma como os crocodilos comunicam pode ser extremamente difícil para os investigadores. A maioria dos crocodilos selvagens esconde-se quando os humanos se aproximam, e a proximidade pode ser perigosa para os humanos.
E até captar os sons os crocodilos em cativeiro no Zoo da Austrália tem as suas complicações, porque os animais comem constantemente os microfones.
Porque é importante descodificar a “conversa” dos crocodilos
A monitorização acústica, um método relativamente barato para detetar a presença de crocodilos num curso de água, pode também ser utilizada para recolher dados sobre o tamanho de cada crocodilo, o seu comportamento e saúde, segundo Potvin.
“Talvez um crocodilo esteja a fazer um som que indique que não está bem, ou talvez esteja a fazer um som que indique que está com muita fome, ou que há realmente um grande grupo deles”, explica Dominique Potvin, em entrevista à ABC News.
Os cientistas também esperam que um dicionário de crocodilos possa ajudar a melhorar as relações entre humanos e crocodilos, por exemplo, segundo Potvin, para detetar quando os machos estão a mostrar um comportamento territorial que pode constituir uma ameaça para as pessoas que estão nas proximidades.
“Se soubermos o que os sons realmente significam, podemos ir um passo além de [apenas saber] que existe um crocodilo e podemos dizer: ‘Bem, existe um crocodilo e isto é o que ele está a sentir’, e potencialmente usar isso para a conservação e para a gestão”, esclarece Potvin, citado pela mesma publicação.