Portugal é dos países da Europa com maior consumo de carne. No ano passado, cada português ingeriu 118,5 quilos de carne, mais quatro do que em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. São cerca de 300 gramas por dia, o equivalente a dois bifes de tamanho médio, um valor recomendado pela Organização Mundial de Saúde a ser ingerido por semana e não por dia.
No Reino Unido, o estudo da Universidade de Oxford é o primeiro a identificar a diferença entre dietas com alto e baixo teor de carne nas emissões de gases com efeito de estufa.
“Os resultados mostram que se todos no Reino Unido que comem carne compulsivamente reduzissem a quantidade, isso faria uma grande diferença”, afirma Peter Scarborough, professor da Universidade de Oxford e responsável pela nova pesquisa, à BBC News.
Na verdade, não é preciso erradicar completamente a carne da dieta alimentar. Mas, basta reduzir o seu consumo para gerar menos emissões de gases com efeito de estufa. Partindo do exemplo de um adulto que ingere duas mil calorias por dia, sabe quanto dióxido de carbono os diferentes tipos de dieta produzem por pessoa por dia? Uma dieta rica em carne produz 10,24kg, pobre em carne 5,37kg, peixe 4,74kg, vegetariano 4,16kg e vegan 2,47kg.
Através do projeto Livestock Environment and People (LEAP) foram entrevistadas 55 mil pessoas, divididas em grupos: carnívoros, que comiam mais de 100 gramas de carne por dia, o que equivale a um grande hambúrguer; baixo consumo de carne, com ingestão diária de 50 gramas ou menos, aproximadamente duas salsichas frescas; piscívoros; vegetarianos e veganos.
Apesar de estar bem documentado que a produção de carne tem uma pegada ambiental superior à dos alimentos vegetais, ainda não tinha sido calculado com tantos detalhes (uso da terra, gasto de água, poluição da água e a perda de espécies, geralmente causada pela perda de habitat devido à expansão da agricultura), de acordo com Susan Jebb, professora e investigadora de nutrição na Universidade de Oxford e responsável pela agência Food Standards.
“O que torna esta avaliação diferente é levar em conta a dieta de pessoas reais, com base nos vários métodos de produção que existem no momento. Os investigadores avaliaram num nível muito mais detalhado a pegada ambiental do que se está a comer.”
Para a produção de carne é necessária a utilização de terra e de água e também nestes dois parâmetros os cálculos tiveram em conta, mais uma vez, um adulto que coma duas mil calorias por dia: dieta rica em carne usa 16,78 metros quadrados de terra e 890 litros de água; dieta com menos carne 8,31 metros quadrados de terra e 710 litros de água; rica em peixe 6,31 metros quadrados de terra e 710 litros de água; vegetariana 6,01 metros quadrados de terra e 530 litros de água; vegan 4,37 metros quadrados de terra e 410 litros de água. Mais uma vez se alerta: não é preciso erradicar completamente a carne da dieta alimentar. Mas, basta reduzir o seu consumo para gerar menos efeitos colaterais no clima.
Entretanto, Nick Allen, CEO da Associação Britânica de Processadores de Carne, considerou as avaliações incompletas. “Uma das frustrações com um relatório como este é olhar apenas para as emissões da produção pecuária. Não leva em conta que o carbono é absorvido pelas pastagens, árvores e cercas vivas. Se tivessem essas quantidades em consideração, provavelmente o cenário seria diferente”, referiu à BBC News.
Mas a resposta de Peter Scarborough alerta que vários estudos, incluindo este, concluíram que a absorção de dióxido de carbono pelas pastagens tem somente um “impacto modesto”.
Um outro estudo, também publicado na Nature Food em 2021, concluiu que a produção de alimentos foi responsável por um terço de todas as emissões globais de gases com efeito de estufa. E uma revisão independente do Departamento de Alimentos e Assuntos Rurais do Meio Ambiente pediu uma redução de 30% no consumo de carne até 2032, de modo a atingir a neutralidade carbónica no Reino Unido.
Por cá, segundo um estudo do Banco Europeu de Investimento, mais de metade (57%) dos portugueses aceitaria uma limitação à quantidade de carne e produtos lácteos que cada pessoa poderia comprar, tendo em conta que reduzir o consumo destes produtos de origem animal é uma forma eficaz de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa.