Suponha que tem de tomar uma decisão. Nesse processo terá em conta as suas crenças, todo o contexto que o envolve e em toda uma série de fatores que podem moldar a sua opção. Ainda assim, não pensaria na língua como um fator de relevo. A verdade é que ter o domínio de outro idioma que não o nativo pode ajudar a tomar decisões mais racionais.
Uma equipa de investigadores descobriu que as pessoas tendem a tomar decisões menos emocionais ao pensar na sua língua não nativa. Um grupo de participantes na investigação tinha a opção de salvar apenas algumas pessoas da morte ou, a outra opção, poderiam salvar mais vidas, mas de forma mais arriscada. Nesse caso, os investigadores pediram a voluntários americanos que aprenderam japonês que escolhessem entre uma cura para uma doença que poderia curar definitivamente um terço das vítimas de uma epidemia ou uma cura que tivesse apenas um terço de hipótese de curar todos as vítimas.
A conclusão é que quase 80% das pessoas escolheram a opção segura quando foi formulada em inglês. O número caiu para apenas 47% quando a questão foi reformulada e se falou em perda de vidas. No entanto, quando a pergunta foi feita em japonês, a opção segura foi escolhida cerca de 40% das vezes, independentemente da forma como foi formulada. O papel da emoção pareceu reduzido.
Para garantir que os resultados eram sólidos, a equipa realizou variações dessa experiência e encontrou resultados semelhantes. Assim, apresentaram a voluntários coreanos, que falavam inglês como segunda língua, e a estudantes francesas que estão a aprender inglês a situação hipotética que envolvia a perda de emprego em vez da morte. De acordo com a teoria da perspetiva, a possibilidade de pequenas perdas supera a promessa de ganhos maiores. “Usar uma língua estrangeira diminui o efeito de enquadramento”, escreveu a equipa.
Os investigadores também colocaram a opção à equipa de coreanos de realizarem apostas com ganhos potencialmente grandes e perdas menores. Quando oferecidas apostas em coreano, apenas 57% aceitaram. Quando a oferta era a mesma mas em inglês, esse número subiu para 67%, novamente indicando que acharam as apostas mais razoáveis quando pensadas num segundo idioma.
Os investigadores acreditam que uma segunda língua fornece uma distância cognitiva útil dos processos automáticos, promovendo o pensamento analítico e reduzindo a reação emocional irrefletida. “Dado que cada vez mais pessoas usam uma língua estrangeira diariamente, a nossa descoberta pode ter implicações de longo alcance”, escreveram, sugerindo que as pessoas que falam uma segunda língua podem usá-la ao considerar decisões financeiras.