Foi numa entrevista em vídeo para a edição de 2023 da Sports Illustrated Swimsuit que Megan Fox, de 37 anos, contou que nunca se sentiu completamente satisfeita com a sua aparência. A atriz e modelo norte-americana partilhou que nunca tinha estado “num ponto da vida” em que gostasse do seu corpo e que sentia que essa luta seria “eterna”.
Nessa mesma conversa, Fox, que foi, em 2008 e 2009, eleita a mulher mais sexy do mundo pela revista britânica FHM, revelou ainda sofrer de dismorfia corporal. “Nunca me vejo da forma como os outros me veem”, afirmou. “Desde criança, era uma obsessão que tinha: ‘Devia ser assim’. Porque é que já tinha uma consciência corporal tão grande, se era tão jovem? Não sei muito bem”, disse.
A Perturbação Dismórfica Corporal, ou Transtorno Dismórfico Corporal, acontece quando existe uma alteração da perceção e valorização do próprio corpo, em que a pessoa acredita ser deformada e pouco atraente.
Quem sofre deste distúrbio psicológico sente permanentemente uma preocupação extrema relativamente a um defeito sua aparência que é, muitas vezes, apenas imaginário ou impercetível aos outros, o que cria grande sofrimento psicológico ao doente, afetando vários campos da sua vida, como as suas relações pessoais e profissionais.
De acordo com os especialistas, o Transtorno Dismórfico Corporal tem, em alguns pontos, semelhanças com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), já que também motiva comportamentos obsessivos, e conduz, em vários casos, a quadros de ansiedade e depressão. Em casos extremos, este transtorno podem levar ao suicídio, alerta os especialistas.
Pessoas com este problema tendem a olhar-se ao espelho durante longos períodos de tempo ou tirar fotos com os seus telemóveis de forma a conseguirem analisar melhor a “falha” física que acreditam que têm. Além disso, estão constantemente a comparar-se com os outros – situação que foi intensificada com as redes sociais, afirmam os especialistas.
Estes doentes tendem, também, a procurar com frequência tratamentos estéticos, de forma a conseguirem sentir-se um pouco melhor com a mudança que acham necessária. Contudo, mesmo que a ansiedade diminua durante uns tempos, os sintomas voltam a surgir se o distúrbio psicológico não for tratado.
Em declarações ao The Washington Post, Ramani Durvasula, psicóloga clínica em Los Angeles, nos EUA, disse que é importante observar que este transtorno não tem ligação com distúrbios alimentares, em que existe uma preocupação específica com a forma e o peso do corpo e que, normalmente, leva a uma mudança repentina na alimentação e estilo de vida, no geral.
Não existe uma causa conhecida para o desenvolvimento deste transtorno, mas os especialistas explicam que, geralmente, aparece durante a adolescência, devido a todas as mudanças físicas e psicológicas que ocorrem durante este período.
Além disso, Ann Kearney-Cooke, psicóloga em Cincinnati, Ohio, explica ao jornal norte-americano que, em alguns casos, pode haver uma predisposição genética para a Perturbação Dismórfica Corporal, mas que também pode surgir devido a uma experiência negativa na infância, como bullying, que fez com que a pessoa se tornasse excessivamente sensível a falhas físicas percecionadas por si mesma.
Os especialistas explicam que, embora não haja uma cura para o transtorno, existem opções de tratamento específicas para cada doente que podem ajudar a impedir que a doença progrida com o tempo, e que incluem psicoterapia e, dependendo dos casos (nos que envolvem outro tipo de problemas mentais), de medicação.
De acordo com a Associação de Ansiedade e Depressão da América (Anxiety and Depression Association of America, em inglês), este distúrbio afeta mulheres e homens na mesma medida.
Contudo, uma forma de Transtorno Dismórfico Corporal, conhecida como dismorfia muscular, afeta muito mais os homens. Neste tipo de distúrbio, existe uma preocupação excessiva com o volume corporal e com o desenvolvimento dos músculos, sendo que o doente perceciona ter músculos muito pouco desenvolvidos, apesar da sua visível hipertrofia muscular, procurando constantemente – e com comportamentos obsessivos – aumentar a sua massa muscular.