O antigo ministro da Economia, António Pires de Lima, admitiu, esta terça-feira, no Parlamento, que o consórcio Atlantic Gateway, que comprou a TAP em 2015, terá sido “hábil” na forma como encontrou dinheiro para capitalizar a empresa, mas recusou que o Estado tenha sido enganado.
Ouvido na Comissão Parlamentar de Economia, o antigo ministro confirmou todas os dados, recentemente, revelados pela VISÃO: o consórcio Atlantic Gateway tentou, numa primeira fase, usar os chamados fundos Airbus para a capitalização da empresa; a proposta foi recusada pela Parpública; numa segunda fase, David Neeleman e Humberto Pedrosa deixaram cair a ideia, mas colocaram-na em prática depois de o Acordo de Venda Direta ter sido assinado, em junho de 2015, entre o Estado e a Atlantic Gateway
Ainda assim, António Pires de Lima garantiu que todo o processo foi transparente. Afirmou que só em setembro de 2015 o governo soube da intenção do consórcio em usar os chamados fundos Airbus para capitalizar a companhia aérea. E, antes da assinatura do acordo final, o governo consegiu incluir cláusulas de salvaguarda dos interesses da TAP, como o facto de o dinheiro em causa, cerca de 230 milhões de euros, ficasse durante 30 anos na companhia.
“Pode dizer-se que a Atlantic Gateway foi hábil na capitalização, mas o dinheiro da Airbus foi transparente, não estava em nenhum offshore”, garantiu António Pires de Lima, salientando que, na sua opinião, o Estado não foi enganado. Na audição, Pires de Lima rejeitou ainda que ” tenha havido qualquer golpe na TAP e que os aviões [comprados à Airbus] tenham vindo acima do valor de mercado”.
“O argumento que a compra de 53 aviões acima do preço de mercado é falso, injurioso e infundado. É mentira que tenhamos autorizado compra acima do preço justo de mercado”, declarou António Pires de Lima, defendendo ter havido “um desconto de 4% a 5%” face ao preço de mercado. “Considero altamente improvável que tenhamos sido enganados no processo da compra de aviões”, acrescentou Pires de Lima.
“A condição do preço justo era essencial para que a TAP não fosse prejudicada e que a injeção dos fundos pudesse ser considerada uma capitalização e não o apoio à capitalização de um acionista”, acrescentou o antigo ministro.