Christine Ourmiéres-Widener, a ainda CEO da TAP, declarou na Comissão Parlamentar de Inquérito que o ministro das Finanças, Fernando Medina, lhe sugeriu a apresentação da demissão na sequência do caso da indemnização a Alexandra Reis. A sugestão, segundo a administradora executiva, foi realizada na véspera da apresentação pública do Relatório da Inspecção geral de Finanças, o qual serviu de base para o governo anunciar publicamente a demissão de Christine Ourmiéres-Widener “com justa causa”. “Fui pressionada”, afirmou.
“Eu tive uma reunião com o ministro das Finanças no domingo à noite antes da conferência de imprensa e durante essa discussão ele expressou que a situação estava complicada, mas ele não me deu a informação que seria demitida com justa causa no dia seguinte”, respondeu depois de consultar por breves momentos os dois advogados que a acompanham.
Segundo a ainda CEO da TAP, foi-lhe dito que “havia uma conferência, mas nunca lhe foi explicada a natureza do que aconteceu no dia seguinte”.
Christine Ourmières-Widener é a terceira personalidade, de uma lista de cerca de 60, a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda.
A ainda presidente executiva da TAP contestou o despedimento e acusou o Governo de ter tido “pressa política” para a demitir, segundo a contestação da defesa, citada pela TVI/CNN.
Durante a audição, a CEO da TAP identificou o deputado socialista Carlos Pereira, membro da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, como um dos participantes de uma reunião secreta entre si, membros de gabinetes do governo e deputados socialistas, um dia antes de uma audição na Comissão Parlamentar de Economia. A reunião teria como objetivo a preparação de respostas a dar aos deputados, a 18 de janeiro de 2023, sobre o caso Alexandra Reis.
O deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco revelou ainda que Christine Ourmiéres-Widener teve uma reunião secreta com deputados socialistas e elementos de gabinetes ministeriais na véspera de ser ouvida pela primeira vez, no Parlamento, a 18 de janeiro, sobre o caso Alexandra Reis. Após consultar a agenda, a CEO da TAP, que está a ser ouvida na Comissão Parlamentar de Inquérito, confirmou o encontro, afirmando que o mesmo foi sugerido pelo ministério das Infraestruturas.
“Não estava à espera de tão alta pressão política quando entrei na companhia”, afirmou a ainda presidente executiva da TAP, em resposta ao deputado da IL Bernardo Blanco, na comissão parlamentar de inquérito à transportadora aérea.
Christine Oumières-Widener admitiu ainda que aquela pressão não deixou a companhia “concentrar-se no seu negócio”.
“Era fácil trabalhar com tanto ruído à volta da companhia? Tem sido muito difícil e ainda é. […] É triste ver que toda a gente quer criticar e garantir que a companhia” não chega a bom porto, afirmou a responsável, sublinhando que tem sido difícil para si e para os trabalhadores da empresa.
A ainda CEO da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, confirmou esta terça feira que o governo invocou justa causa para a despedir. Porém, “ainda hoje”, a CEO da TAP não sabe até quando tem que permancer na empresa, já que a notificação formal que recebeu, uma semana após a conferência de impresa de Fernando Medina e João Galamba, não faz qualquer menção à data de cessação do contrato.
Respondendo a perguntas da deputada Mariana Mortágua, a administradora executiva da TAP referiu que considera ter direito ao bónus de mais de um milhão de euros previsto no seu contrato. Christine Ourmiéres-Widener adiantou ainda que, dias antes da tal conferência de imprensa, teve uma reunião com o ministro das Finanças, Fernando Medina, mas este não lhe disse que o governo pretendia despedi-la, terá apenas referido que a “situação era complicada”.
Entretanto, o ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, recomendou à CEO da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, a alteração de uma data de voo com origem em Maputo, Moçambique, com destino a Lisboa, de forma a satisfazer um alegado pedido do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Segundo um troca de emails, revelada pelo deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco, durante a audição da CEO da TAP, a 10 de fevereiro de 2022, Christine Ourmiéres-Widener foi confrontada com um pedido para antecipar um voo de Maputo para Lisboa de 24 para 23 de março de 2022, a pedido do Presidente da República que estaria naquele país africano em visita oficial.
Perante este pedido – que se fosse aprovado afetaria cerca de 100 pessoas com voo marcado – a CEO da TAP pediu a “orientação” do então secretário de Estado, Hugo Mendes, escrevendo-lhe, por email, que a sua “reacção espontânea” seria dizer “não”.
“A minha reacção espontânea é dizer ‘sim'”, respondeu Hugo Mendes, acrescentando que o governo não poderia prescindir do “apoio político” do Presidente. “Ele tem dado muito apoio no que diz respeito à TAP, mas se o seu humor muda, tudo está perdido. Uma frase dele contra a TAP/Governo leva a que o resto do País fique contra nós”.
A situação, segundo a CEO da TAP, foi ultrapassada, porque o Presidente encontrou uma solução de regresso de Maputo a Portugal.
A ainda administradora executiva da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, garantiu, esta terça-feira, no Parlamento, que o administrador financeiro da empresa, Gonçalo Pires, entre conversas e mensagens trocadas, “esteve sempre a par” do processo relativo à saída de Alexandra Reis da empresa, contrariando a versão apresentada, na semana passada, pelo gestor, segundo a qual apenas teve uma conversa informal.
“Tive mais do que uma conversa [com Gonçalo Pires, CFO da TAP]. Houve uma troca de mensagens quando ele viu que o acordo tinha sido concluído”
“Sinto-me um bode expiatório nesta batalha política. Ninguém em todo o processo sabia que o acordo tinha sido feito de boa fé pelos advogado competentes.”
Christine Ourmiéres-Widener fez uma apresentação aos deputados, detalhando todo o processo até à sua demissão.
“No dia 02 de fevereiro de 2022 […], recebi uma mensagem de Hugo Mendes [então secretário de Estado] a informar que o ministro [Pedro Nuno Santos] autorizou”, e onde pediu que “fechasse o acordo”, afirmou Christine Ourmières-Widener, que está a ser ouvida na comissão de inquérito da TAP.
A ainda presidente executiva da companhia aérea sublinhou que “não tomou nenhuma decisão relevante” no processo de saída da ex-administradora Alexandra Reis, com uma indemnização de cerca de 500.000 euros, e que atuou como um intermediário entre o Governo e os advogados.
“Eu não sabia que não havia coordenação entre o Ministério das Infraestruturas e Habitação e o Ministério das Finanças, tão pouco sabia que o Ministério das Infraestruturas não tinha poder para aprovar este acordo, bem como não sabia que havia um risco legal, naquela altura”, acrescentou Ourmières-Widener.