Os voos diretos de muito longa distância (ULH, sigla inglesa) estão a tornar-se cada vez mais comuns e são muito atrativos para os que querem evitar as escalas demoradas entre destinos.
A Qantas Airways, companhia aérea australiana, anunciou que, a partir do final de 2025, passará a operar voos sem escalas da costa este da Austrália para Londres (16991 km) e Nova Iorque (15988 km), tendo adquirido 12 Airbus 350-1000, o que significa que os passageiros vão passar a “voar” 19 horas seguidas. Estes serão os voos mais longos do mundo.
A companhia informou também que estes serão os dois primeiros destinos, e que pretende começar a fazer viagens de e para Paris e Frankfurt. Outras companhias aéreas, como a Japanese Airlines, também anunciaram a decisão de passarem a operar voos mais longos com o objetivo de contornarem o espaço aéreo russo.
Apesar de a existência destes voos super longos ser sinal de progressão, a verdade é que os nossos corpos gritam por ajuda sempre que “voamos” durante muitas horas seguidas e, por isso, é importante sabermos como prevenir algumas situações.
O que acontece, afinal, ao corpo durante os voos mais longos?
Viajar de avião pode estar associado a um aumento dos níveis de stress – neste ponto, até em voos curtos sintomas deste tipo podem surgir, por exemplo em pessoas com medo de andar de avião. Muitas também podem sentir-se assoberbadas mesmo antes do voo, por tudo o que andar de avião implica (longas filas de espera e atrasos, por exemplo).
Longas viagens deste tipo também aumentam os níveis de cansaço, o que pode ser explicado pela pressão do ar, que é mais baixa em altitudes elevadas. O ar da cabine é pressurizado, contudo a pressão continua a não ser equivalente à existente ao nível do mar. Portanto, como os níveis de oxigénio no avião são mais baixos, também diminuem os do corpo, o que pode promover a sensação de cansaço.
Também podemos sentir-nos mais sonolentos do que o normal, já que o corpo não consegue absorver tanto oxigénio do ar da cabine em altitude. Desacelerar é a forma de o corpo se proteger dessa falta de oxigénio.
Podem, por vezes, surgir edemas nas pernas, que se devem principalmente aos longos períodos que passamos sentados – em voos ULH ainda mais – e à elevada pressão do ar dentro da cabine do avião, além de poder ocorrer distensão abdominal pelo mesmo motivo. Para prevenir esta situação, pode ser positivo evitar alimentos que podem provocar gases, como café e bebidas gaseificadas, por exemplo, antes da viagem.
Já sentiu, durante um voo, que ficou com a pele, olhos, nariz e garganta secos? É comum, em voos de longo curso, as pessoas ficarem desidratadas, e esta sensação de secura pode ser explica precisamente por ficar desidratado. Em primeiro lugar, a desidratação pode ocorrer por não ingerir líquidos suficientes durante o voo. Mas também pode acontecer devido aos baixos níveis de humidade (entre 10% e 20%) na cabine: cerca de metade do ar circulante é trazido do exterior e, em altitudes mais elevadas, a humidade é mesmo muito baixa.
Devemos, por isso, manter-nos hidratados, principalmente durante os voos de muito longa distância, e evitar utilizar lentes de contacto, optando pelos óculos, se for possível.
À medida que a pressão da cabine vai mudando (na descolagem e aterragem essas alterações são mais notórias), os ouvidos vão tentando adaptar-se, mas muitas vezes a pressão é diferente entre os dois, daí termos a sensação de que estão a estalar (muitas vezes é também doloroso). As dores de cabeça que podem surgir também se devem às mudanças nos níveis de pressão.
Voar durante muito tempo pode aumentar o risco de trombose venosa profunda, que é maior em pessoas obesas, com varizes ou que tenham outras doenças crónicas. Isto acontece quando se formam coágulos nos vasos sanguíneos dos membros inferiores: quando se soltam e passam a circular na corrente sanguínea, o risco de ocorrer uma embolia pulmonar é grande.
De acordo com uma revisão de 18 estudos realizada em 2022, quanto mais se viaja, maior o risco de coágulos sanguíneos. Os investigadores concluíram que existe um risco 26% maior a cada duas horas de viagem aérea, que começa após quatro horas de viagem.
Contudo, ainda é desconhecido se o risco é maior quando se trata de voos ainda mais longos como os que vão passar a operar em 2025. O conselho dos especialistas é que utilize vestuário confortável e não muito justo quando viajar e que caminhe um pouco pelo corredor do avião de tempos em tempos, o que vai ajudar a melhorar a circulação sanguínea.
Além disso, apesar de a recirculação do ar dentro da cabine do avião ser realizada através de filtros que exterminam a maior parte dos vírus e bactérias presentes no ar, o facto de haver tanta proximidade entre os passageiros e o ar mais seco podem favorecer a transmissão de micróbios.
O que o Jet lag pode fazer ao corpo
Nos voos de longa distância, o local de destino vai ter sempre um fuso horário muito diferente daquele a que está habituado e, nesses casos, muitas pessoas sofrem de jet lag. Normalmente, quanto maior é a diferença horária entre países, mais notório é o jet lag, que pode provocar sintomas como ansiedade, cansaço, náuseas e diarreia.
Apesar de as viagens de avião provocarem certas reações no corpo, a investigação sobre como o organismo reage a voos de muito longa distância, sem escalas, como aquele que vai ligar a Austrália e a Inglaterra, por exemplo, está agora no início, com equipas australianas atentas a este tema.
Pode haver consequências de saúde mais graves? Ainda não se sabe, mas os especialistas aconselham, em todos os voos, a manter a hidratação e o movimento, para prevenir alguns dos sintomas e complicações.