O centro da cidade de Ghent, na Bélgica, com quase meio milhão de habitantes, é um local onde as bicicletas tiram o protagonismo aos carros, onde os transportes públicos são amplamente usados e onde até se conseguem ouvir os pássaros a cantar.
Hoje, Ghent é considerada uma cidade verde, mas nem sempre foi assim. A mudança começou em 2017, quando Filip Watteeuw, vice-presidente da Câmara e arquiteto do plano de mobilidade e circulação da cidade, decidiu implementar o programa que elevaria a cidade ao conceito de sustentável e verde.
“O plano era tornar as viagens curtas menos atraentes para os carros e mais atraentes para qualquer outra coisa”, explica Watteeuw, que desvendou os “segredos” para a mudança à Sky News. O centro da cidade é, na sua maioria, proibido a veículos, com a exceção de fornecedores, alguns profissionais de saúde e idosos. Assim, a alternativa é andar à volta desse centro, passando pelos subúrbios.
No início não foi fácil, garante o governador. “Foi um debate muito acirrado, com ameaças de morte para mim e para a minha família. E por isso tive seis semanas de vigilância policial. Foi muito difícil, mas valeu a pena”, afirma. Watteeuw explica que, apesar de ter havido um período de preparação de dois anos e meio, a implementação da norma mudou num fim-de-semana.
Os planos foram controversos, quando anunciados em 2014, e ainda há residentes descontentes com esta mudança. Um inquérito realizado a consumidores concluiu que 44% das pessoas passaram a visitar menos as lojas no centro da cidade.
Contudo, as novas regras têm revelado resultados muito positivos ao longo do tempo. Um relatório da Transport Mobility Leuven deu conta de que a utilização do carro pelos residentes diminuiu 7% dois anos depois, com o ciclismo a aumentar 60% e a utilização de transportes públicos 12%. A qualidade do ar também melhorou: os níveis de poluição diminuíram 18%.
Devido ao terreno relativamente plano, Ghent é fácil de percorrer de bicicleta, o que facilitou a implementação da medida. Desde aí, foram várias as mudanças que ocorreram. Por exemplo, o que antes funcionava como parque de estacionamento, agora é um jardim com arbustos, esculturas e mini trampolins.
No final de contas, o feedback é positivo, garante Watteeuw. Em cidades da Inglaterra, como Londres, Oxford, Bristol, Bath, Cambridge, Newcastle e Gateshead, já estão a ser elaborados planos de transporte semelhantes.