A poucos dias de o mundo se fixar, hipnotizado, no verde fresco dos relvados do Qatar, as preocupações de Paulo Fontes continuam na memória dos trabalhadores que a Amnistia Internacional (AI) garante terem morrido naquele país, ao longo dos últimos 12 anos, na sequência de trabalhos forçados. À VISÃO, o dirigente denuncia a trágica fatura deixada pelo primeiro Mundial de futebol disputado no Médio Oriente e lamenta que a FIFA tenha desperdiçado a oportunidade de lutar pela defesa dos Direitos Humanos naquela região.
A Amnistia Internacional (AI) afirma que, pelo menos, 15 021 pessoas morreram na sequência da construção das infraestruturas para o Mundial do Qatar. O governo daquele país nega este número e fala de apenas 35 óbitos. O The Guardian, que publicou uma investigação com grande impacto, aponta 6 500 mortes. Como é que a AI chegou a este número?
Através, sobretudo, do relato de pessoas que testemunharam os acontecimentos no Qatar. Centenas ou milhares de relatos. Posso dizer, por exemplo, que algumas delas relataram à AI terem passado meses ou até mesmo anos sem ter direito a qualquer dia de descanso; dizem-nos que, quando adoeciam e tinham de faltar um dia, muitas vezes, os empregadores decidiam descontar no pagamento, não só desse dia mas de toda a semana. Há um conjunto de direitos laborais e humanos que não foram, e continuam a não ser, cumpridos.