“Para mim é um sonho difícil de descrever”, resumiu o escritor que venceu hoje o Prémio José Saramago, no valor de 40.000 euros, pelo seu romance “Dor fantasma”, que será publicado em Portugal pela Porto Editora.
Admirador da obra de José Saramago, Rafael Gallo conta que já leu quase todos os livros do português que venceu o Nobel da Literatura, mas há um especial, com lugar no ‘top’ 10 de livros favoritos: “O ensaio sobre a cegueira”.
“Se pudesse escolher qualquer livro que eu gostaria de ter escrito, seria essa história”, contou em declarações aos jornalistas, no final da cerimónia de entrega do prémio, que decorreu no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.
É sobretudo pela admiração por José Saramago que considera tão especial a atribuição do prémio, mas não só.
“Tenho uma história muito difícil com este romance. Estou a trabalhar nele há seis anos, já passou por editoras que não o quiseram, por leitores que não gostaram, e eu lutei para fazer alterações e para transformá-lo numa outra coisa”, explicou.
Rafael Gallo já tinha concorrido, sem sucesso, ao Prémio José Saramago, mas na altura já estava próximo da idade limite, que era 35 anos e foi alargada até aos 40 anos, desde esta edição, e passou a contemplar obras de ficção inéditas, o que permitiu que se voltasse a candidatar, desta vez com “Dor fantasma”.
O livro, que conta a história de um pianista que dedica a sua vida a criar uma peça intocável, mas é confrontado com a impossibilidade de continuar a ser a única coisa que conseguia depois da amputação de uma mão na sequência de um acidente, quase não viu a luz do dia.
“Estava quase a perder este livro, mas teve esta reversão e, de repente, ganho-o da melhor maneira possível”, sublinhou Rafael Gallo.
O romance será agora publicado Portugal, pelo Grupo Porto Editora, e no Brasil, pela Globo Livros, com distribuição em todos os países da lusofonia.
Sobre esta obra, Bruno Vieira Amaral, escritor distinguido com o Prémio Literário José Saramago 2015, e membro do júri desta edição, enalteceu a qualidade da escrita de Rafael Gallo.
“É mão cirúrgica, aplicando incisões seguras e sábias, é mão de pintor, na pincelada criativa e intencional, é mão de maestro segurando a batuta e guiando a orquestra num crescendo de som e fúria que culmina no magistral desenlace do romance”, afirmou.
Nascido na cidade de São Paulo, no Brasil, em 1981, Rafael Gallo tem criado histórias e inventado personagens desde pequeno, destacam os promotores do prémio, acrescentado que as suas primeiras incursões na área da literatura foram os contos que acabou por compilar num volume intitulado “Réveillon e outros dias”, que propôs a várias editoras, sem nunca ter sido aceite ou publicado.
Tudo mudou quando concorreu ao Prémio SESC de Literatura, um concurso brasileiro para autores de obras inéditas, que lhe permitiu publicar o livro, em 2012, pela editora Record e, de certa forma, tornar-se escritor.
Em 2015, lançou o seu primeiro romance, “Rebentar”, também pela editora Record, que foi distinguido com o Prémio São Paulo de Literatura, na categoria de autores estreantes com menos de 40 anos.
Promovido pela Fundação Círculo de Leitores, com o apoio da Fundação José Saramago, da Porto Editora e da Globo Livros, o Prémio José Saramago foi instituído em 1999 e tem uma periodicidade bienal, pelo que a última edição deveria ter-se realizado em 2021, o que não aconteceu devido à pandemia, obrigando ao adiamento para 2022.
A edição deste ano teve como jurados os escritores e anteriores premiados José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, João Tordo e Bruno Vieira Amaral, além de Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, Guilhermina Gomes, em representação da Fundação Círculo de Leitores e presidente do Júri, e a escritora brasileira Nélida Piñon, membro honorário.
MYCA (AL) // MAG