O texto que se segue exige um aviso prévio da máxima importância: O desporto é um território seguro.
Mas também é um território que amplia e dá visibilidade ao problema social da violência, abusos e outro tipo de assédios.
Perante os três quartos de adultos que relatam ter tido pelo menos um incidente de violência no desporto antes de completarem 18 anos, há que ativar a tolerância zero e punir todos os que prevaricam.
É esta a postura desde sempre defendida pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Pelo menos desde 2018 que essa intolerância se tornou mais visível através da campanha Star to Talk, Quebrar o Silêncio, um projeto do Conselho da Europa, dinamizado em Portugal por este instituto, para que as autoridades públicas e o movimento desportivo ponham fim ao abuso sexual infantil.
Agora, o mesmo instituto acaba de lançar uma página dedicada à proteção dos praticantes de desporto, especialmente direcionada para denúncia e encaminhamento de casos.
“Trata-se de um agregador de informação, com três camadas, que funcionam como várias entradas para o mesmo problema”, explica Vítor Pataco, presidente do IPDJ. Primeiro encontra-se informação geral sobre a violência contra atletas, depois há uma secção em que se disponibiliza a maioria das linhas de apoio a crianças e jovens já existentes. Por último, fornece-se algum material de apoio para facilitar no processo de queixa.
“O IPDJ está a acrescentar especificidade aos meios de denúncia, tentando acelerar a ação. Ao terem o problema evidenciado, podem responder de forma mais específica”, justifica Vítor Pataco. Em pouco mais de uma semana, o Observatório Nacional da Violência Contra Atletas, do Instituto Universitário da Maia (ISMAI) já registou um aumento do número de relatos.
Ao mesmo tempo que se abriu mais esta porta, através de um formulário de denúncia que está direcionado para o ISMAI, o IPDJ está a dar formação específica a quem trabalha no meio desportivo. Para já, estarão cerca de mil pessoas inscritas neste curso online.
A breve trecho, e com o apoio do ISCTE, que está a criar um conjunto de referências para uma formação mais específica, irão atuar junto das federações desportivas para a criação da figura do guardião. Esse guardião será o responsável para detetar sinais antes desvalorizados e bem encaminhar os casos. “Neste momento, em nenhum ponto do sistema desportivo, existem responsáveis por esta proteção”, lamenta o presidente do IPDJ.
Em pouco mais de uma semana, o ISMAI já registou um aumento do número de relatos.