Rodrigo S. aterrou em Lisboa no dia 29 de julho de 2018, acompanhado pela mulher e pela filha menor. O passaporte da República Federal do Brasil que apresentou às autoridades fronteiriças portuguesas não permitia desconfiar de que este homem, então com 44 anos, chegado pela primeira vez a Portugal, carregava na bagagem um longo historial ligado ao submundo do crime organizado. Natural de Curitiba, capital do estado do Paraná, Rodrido S. estivera, nos anos anteriores, permanentemente em viagem, somando quilómetros entre Brasil, Uruguai e Paraguai. A sua ligação a este último país – que faz fronteira com o Paraná – tornou-se especial, com estadas regulares e prolongadas, que lhe permitiram obter a dupla nacionalidade paraguaia.
Foi, precisamente, no Paraguai que, em setembro de 2016, Rodrigo S. passou a figurar nos ficheiros da polícia, depois de as autoridades da capital, Assunção, terem emitido um mandado de prisão em seu nome por falsificação de documentos. Seria, porém, na localidade fronteiriça de Cidade do Leste que este homem seria detido, na companhia de mais quatro compatriotas brasileiros, suspeito de estar a preparar um assalto ao cofre de uma empresa de segurança. A investigação contou com a colaboração das autoridades nos dois lados da fronteira e concluiu que o golpe faria parte do processo de “batismo” – como se designa o ingresso – de Rodrigo S. como membro da mais poderosa e perigosa organização criminosa da América Latina: o Primeiro Comando da Capital (PCC).