O termo, em inglês, “quiet quitting” (desistência silenciosa) ganhou projeção nas últimas semanas – não se trata de uma efetiva demissão, mas sim de não fazer mais do que o necessário no emprego, não indo além do horário de trabalho.
O termo começou por ecoar noTikTok e saltou rapidamente para outras redes sociais e para a imprensa. Agora é a vez do “quiet firing” (despedimento silencioso), tendo sido o utilizador do TikTok, DeAndre Brown, uma das primeiras pessoas a falar sobre o assunto, em agosto.
O conceito de “quiet firing” passa pela atitude passivo-agressiva dos empregadores que impedem intencionalmente um funcionário de progredir na carreira, não o deixando participar em projetos especiais ou boicotando hipóteses de promoção ou aumento de salário – em Portugal, a expressão “pôr alguém na prateleira” parece ter algumas semelhanças. A ideia é que o trabalhador se canse do destrato e saia sozinho.
Desta forma, o “quiet firing” pode ser uma espécie de reposta das chefias ou patrões para o “quiet quitting”.
“Funciona muito bem para as empresas… eventualmente, a pessoa sentir-se-à tão incompetente, isolada e desvalorizada que irá à procura de um novo emprego, e eles nunca terão de enveredar pela rescisão”, escreveu no LinkedIn, um profissional de recrutamento, num post que se tornou viral.
Se o “quiet-quitting” é, basicamente, não executar tarefas para as quais não se recebe compensação financeira, ou, como resume o The Wall Street Journal, não fazer mais do que o necessário para manter o emprego, como já foi escrito aqui na VISÃO, o “quiet-firing” vira o bico ao prego e põe os chefes e patrões a responder com uma demissão silenciosa.
Os testemunhos de funcionários que relatam esta nova tendência têm andado pelas redes sociais, mas os especialistas aconselham o diálogo entre todos, para que o mercado de trabalho não se torne numa montanha russa de desistências e despedimentos silenciosos.
A revista Forbes elenca os seis sinais a que deve estar atento para perceber se a sua empresa está a recorrer ao “despedimento silencioso”:
- É constantemente preterido em promoções e aumentos e não lhe dão feedback sobre isso;
- Não recebe feedback construtivo sobre tarefas que lhe deram. Os seus esforços não são reconhecidos, mesmo que esteja tudo bem feito;
- Dão-lhe tarefas ou turnos inferiores às suas capacidades ou que o separam dos seus colegas. Por exemplo, se alguém de nível médio recebe tarefas normalmente pertencentes a um funcionário de nível básico, havendo pessoas mais adequadas na equipa para tal, isso pode significar que o seu trabalho não está a ser valorizado;
- Não dispõe das informações necessárias para ter sucesso e destacar-se na sua função;
- A chefia nunca tem tempo para falar consigo individualmente;
- É criticado nas reuniões de equipa ou as suas opiniões e ideias não são levadas em conta.
Karla Miller, colunista do jornal The Washington Post sobre relações no mercado de trabalho, escreve que “as supostas novas tendências de ‘quiet quitting’ e ‘quiet firing’ existem há décadas, sob outros nomes. Mas só porque não são novas, não quer dizer que não sejam um problema do presente”. Para Miller, a solução está em ambos os lados: saber realmente o que significa ser produtivo e fazer um bom trabalho; encontrar uma maneira objetiva e clara de quantificar essa produtividade.