Só duas praias portuguesas, num total de 652 analisadas, apresentam uma qualidade da água medíocre, o nível mais baixo na classificação da Agência Europeia do Ambiente (AEA). No seu relatório anual sobre águas balneares, divulgado nesta sexta-feira, 3, com dados relativos a 2021, o organismo da União Europeia põe na sua “lista negra” duas zonas de veraneio em Portugal, por causa da má qualidade das suas águas. Uma é a Praia da Batata, em Lagos, no Algarve. Outra é a Praia do Ilhéu de Vila Franca do Campo, nos Açores, que pelo segundo ano consecutivo recebe avaliação negativa. Em função dos níveis de bactérias fecais detetadas, a escala também classifica como excelente, boa e suficiente a qualidade da água das praias costeiras e fluviais dos países da UE.
Descrito pelo Turismo de Portugal como “um pequeno paraíso”, “resultado da cratera de um antigo vulcão submerso”, o ilhéu açoriano oferece-nos uma praia sinónimo de piscina natural, em forma de círculo, que convida à observação de peixes. Classificado como Reserva Natural, “onde rapidamente percebemos o quão pequeninos somos perante aquilo que a mãe natureza nos dá”, este pedaço de terra vulcânica situa-se a cerca de 500 metros da localidade de Vila Franca do Campo, na costa sul da ilha de São Miguel. Ao longo da década passada, o ilhéu foi palco de várias etapas do circuito mundial de mergulho a partir de penhascos, organizado pela Red Bull.
A pequena área balnear beneficia da tranquilidade da água, uma vez que a única abertura para o Oceano Atlântico está voltada para norte e é bastante estreita, o que deixa a “piscina” circular protegida da ondulação marítima. Em contraponto, as águas paradas estão a concentrar no local demasiada poluição. Entre 2011 e 2019, as amostras recolhidas na água ditaram sempre avaliações de boa ou suficiente (2016 e 2018) pela AEA, mas nos últimos dois anos a “nota” caiu para medíocre.
Quando isso acontece, os estados-membros “devem informar o público e adotar as medidas corretivas adequadas”, lê-se no relatório da AEA. Como consequência, os banhos “devem ser proibidos na época balnear seguinte”, sendo que, em situações de cinco avaliações consecutivas de medíocre, as regras europeias impõem o encerramento permanente da praia, devido a riscos para a saúde.
No caso da Praia da Batata, no Algarve, é a primeira vez que recebe a pior classificação da escala. As amostras obtidas em 2021 revelaram níveis de poluição que refletem um deterioramento progressivo da qualidade da água nesta praia de Lagos. Se, até 2017, foi sempre considerada excelente, passou a boa em 2018, desceu para suficiente em 2020, e agora é uma das duas com o selo de medíocre, no território nacional. Porém, para Este e para Oeste, tanto a Meia Praia como a Praia de Porto de Mós, as maiores de Lagos, são avaliadas como excelentes, no que respeita à qualidade da água.
Excelência de Norte a Sul
É essa a regra de Norte e Sul do País, sem esquecer os arquipélagos. A esmagadora maioria das praias costeiras e fluviais em Portugal, 577 (88,5%), tem nota máxima neste importante parâmetro de avaliação. Com a classificação de boa estão outras 40 (6,1%) e, com nota suficiente, há apenas três (0,5%): a Praia Fluvial de Ponte da Barca (rio Lima), a Praia Fluvial de São Gião (rio Alva, afluente do Mondego), no concelho de Oliveira do Hospital, e a Praia Fluvial de Cavez, em Cabeceiras de Basto (rio Moimenta, afluente do Tâmega). Do total de 652, existem ainda 30 que não foram avaliadas em 2021 por falhas na recolha de amostras.
No panorama da UE, Portugal fecha o top-10 de países com maior percentagem de praias com água excelente. O ranking é liderado pela Áustria, mas também Malta, Croácia, Grécia, Chipre, Dinamarca e Alemanha têm mais de 90% das suas zonas balneares classificadas com a nota máxima.
O relatório abrange quase 22 mil praias na UE, a que se juntam as da Albânia e as da Suíça – neste mapa da AEA, pode consultar todas as avaliações e ficar a saber qual o estado da água nas praias que frequenta ou pensa vir a frequentar. Desde 2015, a percentagem de avaliações excelente tem vindo a manter-se estável, entre 85 e 88 por cento para praias costeiras, e entre 77 e 81 por cento para águas fluviais, tendência que voltou a verificar-se com os dados de 2021.
Este projeto europeu visa incentivar os países a serem cada vez mais eficientes no tratamento das suas águas residuais. Por terem recebido a classificação de medíocre pelo quinto ano consecutivo, 31 praias em Itália, oito em França, duas nos Países Baixos e uma na Suécia, na Chéquia, na Estónia e na Polónia, num total de 45, terão de ser interditadas a banhos, por imperativo legal.