Numa experiência inédita em parceria com a NASA, investigadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos da América, conseguiram cultivar plantas em terreno lunar. Foi a primeira vez que tal aconteceu. Para espanto dos cientistas, ao fim de dois dias as sementes brotaram em solo recolhido na Lua. O material foi trazido do satélite da Terra durante as missões Apollo que a NASA ali realizou entre 1969 e 1972.

“Não posso dizer o quanto ficámos surpresos”, afirmou Anna-Lisa Paul, docente de ciências hortícolas que liderou o projeto. “Todas as plantas – quer em amostras lunares quer nas de controlo – estavam iguais até o sexto dia.”
A par das sementes plantadas em três pequenas amostras de solo trazidas da Lua há cerca de 50 anos, os cientistas replicaram o processo com recurso a solo vulcânico, de modo a estabelecerem um ponto de comparação. Depois, juntaram-lhes água, nutrientes e luz, em ambiente fechado. O resultado, publicado esta quinta-feira, 12, no jornal científico Communications Biology, constitui um marco histórico na exploração espacial.
“Esta pesquisa é fundamental para os objetivos de exploração humana de longo prazo da NASA, uma vez que vamos precisar de usar recursos encontrados na Lua e em Marte para desenvolver fontes de alimento para os futuros astronautas a viver e a operar no espaço”, declarou Bill Nelson, o administrador da NASA, acrescentando que “esta pesquisa fundamental de crescimento de plantas é também um exemplo importante de como a NASA está a trabalhar para desbloquear inovações agrícolas”, com o propósito de perceber “como as plantas podem superar condições de stresse em áreas com escassez de alimentos aqui na Terra”.
Após o sexto dia de cultivo, as plantas em crescimento nas amostras lunares começaram a atrofiar. Até ao 20º dia, as folhas desenvolveram-se menos do que as do grupo de controlo. Ao mesmo tempo, também se observaram diferenças nas plantas germinadas no solo da Lua, devido a características distintas das amostras utilizadas. Testes genéticos posteriores mostraram que estas plantas se encontravam sob stresse, devido à escassez de nutrientes. Mas todas brotaram, como assinalam os autores da experiência, que recorreram à planta Arabidopsis thaliana, muitas vezes utilizada em experiências científicas, devido ao tamanho reduzido e à rapidez com que cresce.
Quase 400 quilos “desviados” da Lua
Há cinco décadas, as missões Apollo na Lua recolheram 382 quilos de solo lunar, com a intenção de salvaguardar futuras investigações, sobretudo as que, nos anos 1970, não eram sequer equacionadas. Para a experiência da Universidade da Flórida, foram utilizadas três amostras de um grama do solo lunar – o equivalente a uma colher de chá -, trazidas pelas missões Apollo 11, 12 e 17. Geologicamente, este material recebe a designação de rególito, ou seja, detritos de rocha não consolidada, formados pela erosão natural.
“Aqui estamos nós, 50 anos depois, a completar experiências iniciadas nos laboratórios Apollo”, comentou Rober Ferl, outro dos investigadores envolvidos na pesquisa. “Primeiro, questionámos se as plantas poderiam crescer em rególito. E, segundo, como isso poderá um dia ajudar os humanos a ter uma estada prolongada na Lua.”
Sim, podem, talvez sem o vigor com que crescem em terrenos mais férteis, é a resposta à primeira dúvida. Quanto à segunda, é demasiado cedo para saber, sendo certo que a NASA, através do programa Artemis, tem previsto o regresso das missões na Lua em 2025 – e plantar sementes faz parte das suas intenções.