Quando era miúda, aquela semana na primavera em que Ana Teresa Matos saía de Mafra para passar uns dias com os pais, biólogos, na zona da Torre, era a melhor de todas. “O meu pai é virologista e estudava as lagartixas da montanha. O gosto pela serra da Estrela começou nessa altura”, conta uma das mais jovens pastoras da região, com 30 anos. Licenciada em Biologia, com um mestrado em Engenharia Florestal, Ana é dona de um rebanho com 40 ovelhas (e quer chegar às 60) da raça autóctone bordaleira – que, juntamente com a churra mondegueira, é a raça que dá o leite para o fabrico do mais antigo dos queijos portugueses, produzido numa área geográfica DOP (Denominação de Origem Protegida).
Desde cedo que a família de Ana Matos trocava as férias na praia pela Natureza. Daí que, quando decidiu que queria viver na zona alta e despovoada da Estrela, aliando a pastorícia a um projeto de reflorestação, ninguém estranhou. “Alguns dizem que sou doida, outros que gostavam de fazer o mesmo”, ri-se. Em 2018, adquiriu um terreno com 90 hectares em Casal das Pias, um lugar inóspito em Casais de Folgosinho, Gouveia, situado a 900 metros de altitude, aonde se acede percorrendo sete quilómetros de terra batida, mas do qual se avistam paisagens de perder o fôlego, com o rio Mondego a correr no vale. Há dois anos, desde que limparam o mato e reconstruíram uma pequena casa (cuja eletricidade é apenas possível com painéis solares), Ana e o companheiro, o arqueólogo André Marques, passaram a viver ali, na companhia das ovelhas e dos dois cães serra da Estrela, o Urze e o Zimbro. “Fascinou-me o isolamento, o estar no meio da serra, as vistas e a possibilidade de poder trabalhar na conservação da Natureza”, conta, de sorriso largo com a pele da cara avermelhada à conta do vento frio da manhã.