A entrega de um superiate de luxo a Jeff Bezos pela empresa neerlandesa Oceanco, prevista para o próximo verão, vai obrigar ao desmantelamento temporário de uma ponte do século XIX, em Roterdão. Com 127 metros de comprimento, 3500 toneladas de peso e um valor estimado de 430 milhões de euros, o veleiro Y721 encomendado pelo bilionário norte-americano, ainda em construção, será um dos maiores do mundo, e os seus mastros não conseguem passar por baixo desta ponte ferroviária de elevação vertical.
Monumento nacional desde 1994, a ponte histórica, a que os locais chamam De Hef, ou o elevador, ergue-se a uma altura de cerca de 40 metros para deixar passar os barcos, mas não é o suficiente neste caso. A solução, já aprovada pelo município de Roterdão, é desmontar parte da estrutura em aço (precisamente a que se eleva para as embarcações passarem), com a justificação de que não há outra forma de fazer chegar o navio ao mar, desde o estaleiro onde está a ser construído. Outro argumento usado pelo município é o de que o projeto ajudou a criar muitos postos de trabalho na região, além de que a parte da ponte a ser desmantelada será reposta no devido lugar alguns dias depois.
Os custos da operação ficarão a cargo dos seus beneficiários, a Oceanco ou o próprio Jeff Bezos (não é conhecido esse “detalhe”), mas não deixa de implicar a quebra de uma promessa feita em 2017 pela câmara, quando terminaram, ao fim de três anos, as obras de renovação que obrigaram igualmente ao desmantelamento da parte elevatória. Não voltaria a acontecer, foi garantido à população.
Localizada no distrito de Feyenoord, a ponte sobre o canal Koningshaven, um pequeno desvio no rio Novo Mosa, remonta ao ano de 1878, mas durante quase cinco décadas manteve-se como uma estrutura amovível, que rodava sobre um pilar central até ficar numa posição perpendicular ao rio e permitir a passagem dos barcos de ambos os lados. No entanto, não proporcionava assim tanto espaço para o efeito e, depois de alguns acidentes, foi reinaugurada, em 1927, com o sistema de elevação que preserva até hoje, embora os comboios tenham deixado de lá passar em 1993, quando a travessia ferroviária do rio passou a fazer-se através de um túnel.
Nessa altura, chegou a estar planeada a demolição da ponte, mas as muitas vozes de protesto que se fizeram ouvir impediram o desaparecimento daquela foi uma das primeiras reconstruções na cidade no pós-Segunda Guerra Mundial, durante a qual foi destruída, em 1940, num bombardiamento da Alemanha nazi a Roterdão.