Quando Luís Neves leu, pela primeira vez, sentado à secretária na Gomes Freire (sede da PJ), a confissão de fuga de João Rendeiro, ex-presidente do Banco Privado Português (BPP) – condenado a dez anos de prisão efetiva pelos crimes de fraude fiscal qualificada, abuso de confiança qualificado e branqueamento de capitais –, publicada a 28 de setembro, no blogue Arma Crítica, o diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ) assumiu pessoalmente, como prioridade, a missão de “emendar” o erro que, a partir daqui, envolvia de alto a baixo o setor da Justiça. “Temos de o agarrar!”, pensou e disse-o, num impulso, aos colaboradores mais próximos. Passados dois meses e meio, no último sábado, 11, Luís Neves sairia da sombra discreta, em que sempre se moveu, para, com o ar sereno de sempre e perante o País, anunciar que a PJ, em estreita colaboração com a polícia sul-africana, tinha sido bem-sucedida: João Rendeiro fora localizado e detido, nessa mesma manhã, nos subúrbios ricos de Durban, na África do Sul.
À frente da PJ desde 2018 – já reconduzido no cargo até 2024 –, Luís Neves sempre mostrara (até aqui) aversão aos holofotes. Quem é, afinal, este homem? Nascido em Castelo Branco, em 1965, Luís António Trindade Nunes das Neves passou os melhores anos da infância no Lobito, em Angola. No pós-25 de Abril, regressaria a Portugal, com apenas 10 anos, sentindo na pele o estigma que, numa época confusa, as famílias dos retornados carregavam ao chegar ao País. Foi viver para o Fundão, distrito de Castelo Branco, mas, três anos depois, mudar-se-ia em definitivo para Almada.